Manuel Alegre fez uma boa campanha. Cavaco leva uma vantagem desconfortável para as eleições. A segunda volta é ainda uma possibilidade. Não se abstenham!

Na sequência deste comentário do meu estimado colega Francisco Barão Dias a este artigo de opinião, resolvi proceder a uma retrospectiva da campanha eleitoral de Manuel Alegre e divulgar as minhas previsões para as Presidenciais 2011, deixando a minha perspectiva pessoal bem patente. Confesso que inicialmente não pretendia desenvolver exaustivamente o assunto, mas acabei por fazê-lo dada a sua relevância e o meu entusiasmo enquanto escrevia.

A Campanha Eleitoral de Manuel Alegre

Na minha perspectiva, Manuel Alegre fez uma boa campanha. Contrariando alguns dos meus receios, soube conter convenientemente a sua iminente sede de poder, colocando as prioridades do país sempre à frente dos seus interesses pessoais. Acerca do seu discurso, penso que se pronunciou com clareza e coerência (o que é fundamental) sobre os assuntos mais relevantes no actual contexto socioeconómico e político, deixando as suas posições bem esclarecidas e mostrando que reúne todo um conjunto de condições de importância capital para o cargo de Presidente da República.

São exemplos disso a frontalidade com que defendeu o Estado Social, deixando patente a forma convicta como defende o apoio do Estado à saúde e à educação (mostrou-se disposto a bater-se pela gratuitidade do SNS e do Ensino Público) e a importância de uma participação activa do Presidente da República na política externa portuguesa, fazendo uso dos poderes do cargo para dialogar com o exterior e intervir na estruturação das relações e nos negócios entre os países (algo em que Cavaco Silva se notabilizou pelo silêncio e pela inactividade).

A Postura de Manuel Alegre face aos casos em que Cavaco Silva esteve envolvido

Sei que, quando o Francisco fala de contra-campanha, se referes a um conjunto de argumentos ad hominem de que não só Alegre, mas também todos os outros candidatos (incluindo Cavaco Silva) se socorreram durante esta campanha. Não o nego e concordarei inteiramente com quem afirmar que esse tipo de estratégias, independentemente de poderem resultar e de suscitarem questões relevantes, não contribuem em nada para o enobrecimento da campanha. Ainda assim, gostaria de notar aqui dois aspectos importantes:

1) O caso BPN e outros assuntos passíveis de atentar contra a credibilidade do actual Presidente da República, Cavaco Silva, foram trazidos a esta campanha eleitoral por outros candidatos (Francisco Lopes, Defensor Moura), sendo particularmente salientados durante os debates entre Cavaco e estes candidatos. Por outro lado, é preciso saber distinguir a forma como os apoiantes de Manuel Alegre, independentemente atacaram o carácter Cavaco Silva, e aquilo que o próprio Manuel Alegre disse acerca do assunto.

2) O modo como Alegre encarou estes ataques à personalidade de Cavaco foi, a meu ver, exemplar, dado que soube gerir convenientemente a situação, com prudência e responsabilidade. Nos debates e entrevistas, Alegre não se servia destas polémicas para desenvolver a sua argumentação, discutindo esses assuntos apenas quando questionado acerca deles. Para além disso, não ouvimos Manuel Alegre a dirigir acusações a Cavaco Silva, mas simplesmente a enunciar factos concretos que despertavam suspeitas acerca do Presidente da República, limitando-se a pedir esclarecimentos a Cavaco Silva. De resto, o próprio Manuel Alegre, aquando da entrevista com Judite de Sousa, disse muito claramente que lamentava ver a quase totalidade do tempo de antena dedicado a questões de segundo plano (todas estas manobras de bastidores).

Uma Campanha Frontal, Responsável e Convincente

Assim, penso que a campanha de Manuel Alegre decorreu de forma favorável ao candidato, que se expressou se uma forma inteligente e convincente, deixando bem claros os motivos pelos quais a sua eleição seria positiva para o país e gerindo adequadamente as polémicas que marcaram a campanha (incluindo aquelas das quais Manuel Alegre foi alvo e que rapidamente se viriam a revelar ridículas, desmistificadas com frontalidade e sinceridade pelo próprio).

A campanha não foi perfeita, como é óbvio, e admito que se tenham cometido alguns erros estratégicos. No entanto, não os considero graves, sobretudo porque não encontramos fragilidade na forma como explorou a realidade nacional e definiu as prioridades do seu mandato, nem descobrimos atitudes ilícitas/imorais no modo como se relacionou com os outros candidatos e procurou ganhar popularidade em relação aos seus adversários.

O conservadorismo, o chantagismo e a contrariedade de Cavaco Silva

Por seu turno, Cavaco demonstrou de forma inequívoca o seu conservadorismo, patente na forma como encara a sociedade, a futilidade dos seus conhecimentos em economia (no decurso da sua estratégia de vitimização transmitiu uma imagem de impotência face à crise económica que não se coaduna com o seu estatuto académico na área) e acentuou as suspeitas que contra ele se levantaram, dado que nunca se pronunciou de forma explícita de directa acerca daquilo que verdadeiramente aconteceu, quer no caso BPN quer nos negócios de casas no Algarve.

Já no final da campanha, falaciosamente, Cavaco recorreu a argumentos chantagistas que visam a sua eleição à primeira volta e o tornam um candidato muito contraditório (destacou o dinheiro que o Estado pouparia no caso de não se realizar uma segunda volta das eleições presidenciais, ainda que a sua campanha tenha sido a mais dispendiosa de todas).

Antevisão das Eleições Presidenciais

Em jeito de balanço, fazendo a antevisão dos resultados da eleições, tenho de admitir que, à partida, Cavaco Silva vencerá as presidenciais à primeira volta, sendo reeleito para o cargo com uma percentagem de votos ligeiramente superior a 50% (sem atingir os 58%), ficando Alegre no 2º lugar com uma percentagem compreendida entre 23% e 30% (sensivelmente).

No entanto, as últimas sondagens revelam uma descida de 7% nas intenções de voto em Cavaco Silva, que se situa agora nos 55%, enquanto Manuel Alegre se mantém aproximadamente constante, algures nos 25% ou 28% (as sondagens divergem bastante, como sabemos). Além disso, é sabido que, nas eleições presidenciais de 2006, não se realizou uma segunda volta por apenas algumas décimas, quando as sondagens à boca das urnas davam a vitória a Cavaco com 60% dos votos. Algo semelhante aconteceu em 2001, quando as sondagens concediam 64% a Jorge Sampaio, que viria a ser reeleito com apenas 55% dos votos dos portugueses (confirmem no quadro que vos apresento aqui em baixo).

Nesse sentido, acredito plenamente na realização de uma segunda volta. Acho bastante verosímil que a percentagem de votos de Cavaco Silva se situe entre os 48% e os 52%, ficando Manuel Alegre algures nos 30%, com Fernando Nobre ultrapassando os 10% ou 12% e os outros 3 candidatos, juntos, perfazendo também cerca de 10%. Tudo isto são especulações, mas parece-me que a segunda volta surge claramente como uma possibilidade em aberto.

Balanço Final: Os Resultados, as Circunstâncias, o Desempenho de Alegre e Imagem de Cavaco

Em suma, penso que a boa campanha de Alegre, mas sobretudo a postura desastrosa de Cavaco Silva, não passarão incólumes. Se o actual PR será reeleito? É provável. No entanto, há que destacar o bom trabalho de Manuel Alegre, cujo desempenho nesta campanha superou as minhas expectativas.

A divisão da esquerda, o sorriso falso e muito enganador de Cavaco, a ideia errónea de que precisamos de Cavaco como garantia da estabilidade governativa (os seus tabus e meias palavras são uma ameaça a esse conceito de estabilidade governativa) e a dificuldade em lidar com a mudança manifestada pelas massas populacionais criaram um ambiente hostil para a candidatura de Manuel Alegre. Todavia, ele a sua equipa de campanha tiveram a sagacidade necessária para inverter esta tendência e transformar as eleições presidenciais num acontecimento político desconfortável para Cavaco Silva, cuja irritação e rancor denunciaram o indivíduo repudiável que se esconde por detrás da máscara.

Mas ainda é possível uma segunda volta! Tudo depende daquilo que os portugueses decidirem amanhã… E espero que os meus compatriotas exerçam o seu direito de voto conscientemente, cientes de que na política não existem inevitáveis e das verdadeiras competências de cada um dos candidatos elegíveis.

Taça da Europa de Futebol de Praia 2010: Portugal e Rússia na grande final rumo ao título continental

Nota: Se procuram informações sobre a Superfinal da Liga Europeia de Futebol de Praia 2010, realizada em Lisboa, em Belém, visitem este post, onde poderão encontrar tudo o que pretendem.

Queria começar este post com um sincero pedido de desculpas a todos os protagonistas e amantes da modalidade, nos quais me incluo, por não ter actualizado o meu blogue mais cedo, sendo  agora obrigado a falar das duas primeiras jornadas da Taça da Europa em simultâneo.

Passando ao assunto que verdadeiramente interessa, penso que devo começar por dizer que a Taça da Europa de Futebol de Praia Roma 2010 está a ser um sucesso, com muita animação e grandes momentos desportivos. A escolha de Roma para palco da grande competição não podia ser mais acertada, proporcionando um palco fantástico para os combates dos modernos gladiadores, os heróis das praias europeias. Como dizia alguém aqui há uns dias: Uma cidade antiga para uma modalidade recente.

Mas o que tem acontecido ao certo nesta 12ª edição do evento? Quem tem sido o grande destaque deste torneio espectacular? Por onde anda a nossa selecção, a flor das areias lusitanas?

Digamos que as duas equipas apuradas para a final da competição são justamente Portugal e Rússia, o que vem confirmar as minhas expectativas antes da competição, sendo estas as duas selecções que venceram os seus dois jogos até ao momento.

O caso português: Dedicação e entrega sem precedentes

A equipa portuguesa iniciou a competição frente aos rivais helvéticos, liderados pela estrela Dejan Stankovic, que impuseram inúmeras dificuldades a Portugal, parecendo determinados a impedir o sucesso das cores lusas. No entanto, a união e preserverança dos jogadores nacionais acabou por prevalecer, numa partida que se revelou um autêntico duelo de campeões, com luta até ao fim, altura em que um pavoroso pontapé de bicicleta de Madjer deu a vitória ao conjunto português. Faltavam 8 segundos para terminar o jogo e Portugal emergia vitorioso, com 2-1 no marcador!

O segundo jogo dos pupilos de José Miguel Mateus foi outra terrível prova de fogo, num combate por um lugar na final frente aos italianos, anfitriões do torneio. Que grande jogo de futebol de praia! Se a partida anterior de Portugal não fora particularmente pródiga em golos, o mesmo não sucedeu diante dos transalpinos, naquele que será provavelmente o jogo com maior número de golos da competição,com um total de 17 tentos. E, apesar de um começo de jogo complicado, em que a turma portuguesa esteve duas vezes em desvantagem, Portugal conseguiu passar para a frente do marcador e nunca viria a permitir o empate, procedendo a uma boa gestão da vantagem, apesar da excelente reacção italiana.

Madjer, mais uma vez, foi o herói do jogo, ao apontar 4 golos, mas o destaque tem de ir necessariamente para Marco e Jordan, que se estrearam a marcar com a camisola nacional no seu segundo jogo internacional. Do lado adversário, Carotenuto foi o principal destaque do encontro, tanto pela positiva como pela negativa: marcou um hat-trick, deixando os adeptos locais em delírio e incitando os colegas de equipa à reviravolta no marcador, mas também se descontrolou na parte final do jogo, quando os números da vitória portuguesa despertaram o lado conflituoso e violento do seu carácter, originando uma situação desagradável com Paulo Graça, que culminou na expulsão do jogador italiano.

A situação russa: Frieza e profunda determinação

Por seu turno, os russos tiveram de ultrapassar a França, de Eric Cantona, e a Espanha, de Joaquín Alonso, para alcançar a final de Domingo.

O primeiro jogo, apesar do resultado dilatado verificado no fim dos 36 minutos, não foi tão simples como poderia eventualmente parecer, dado que os gauleses deram uma excelente resposta sensivelmente até ao meio do jogo (meio do 2º período). No entanto, a maior qualidade russa acabou por fazer a diferença no decorrer do 2º período, com o 3º segmento de jogo a surgir como uma sucessão de golos da equipa de leste, até atingir o resultado final de 8-2. Destaques russos para Shishin (um dos  meus jogadores favoritos na equipa) e Krasheninikov, ambos com 2 golos.

O segundo jogo dos actuais campeões europeus (a Rússia venceu a Liga Europeia de Futebol de Praia 2009) foi uma meia-final muito disputada entre russos e espanhóis, com o triunfo a acabar por sorrir ao conjunto oriental, que soube recuperar de uma vantagem de dois golos no 2º período para depois dar a volta ao resultado em grande estilo. Mais uma vez, os russos foram extremamente eficazes quando assim foi preciso. Makarov foi um dos principais destaques na equipa russa, ao apontar 2 golos, sendo que Leonov, Gorchinskiy, Shakhmelyan, Eremeev e Krasheninikov também marcaram, contribuindo assim para o 7-5 final (não assisti ao jogo, pois estive fora de casa, mas fiz a gravação para o poder ver depois).

Grande final em perspectiva

É verdade. Portugal e Rússia. Mais uma vez, os dois colossos do futebol de praia europeu voltam a encontrar-se, desta vez em Roma, a capital italiana. O que acontecerá desta vez?

Podemos analisar a questão de muitos pontos de vista diferentes. Historicamente, a Taça da Europa é uma competição favorável a Portugal, sendo que a equipa portuguesa conquistou 6 troféus na competição até ao momento (mais de metade das 11 edições disputadas). Por outro lado, no ano passado, os registos de confrontos entre russos e portugueses são claramente favoráveis aos nossos rivais, que apresentam 3 vitórias em 3 jogos, a última das quais ocorreu na final da Liga Europeia de Futebol de Praia 2009, em Vila Real de Santo António, quando Portugal foi derrotado por 4-3 e cedeu o título de campeão europeu à selecção russa. No entanto, nesta época, que já vai longa para a equipa de leste, os lusitanos já venceram a Rússia por uma vez, na Spring Cup Viseu 2010, que foi precisamente a única derrota dos russos neste ano. Estatisticamente, temos muito equilíbrio, portanto, entre as duas selecções.

Mas o que dizer em relação ás equipas em si? Bem, podemos começar por ter bem assente que se tratam de duas grandes equipas, as melhores do futebol de praia europeu na actualidade, apesar da concorrência da Suíça, da Itália e da Espanha. Selecções muito diferentes, é certo, mas com níveis exibicionais muito semelhantes, sendo provavelmente as únicas que conseguem rivalizar com o Brasil.

Portugal com um estilo mais fluido, mas alegre, com a bola (quase) sempre pelo ar e um estilo espectacular, capaz de fazer as delícias do público mais exigente. A Rússia com um poder físico assinalável, dada a prodigiosa preparação física dos seus atletas, e uma filosofia de jogo marcada pela disciplina táctica e pela frieza de leste, que se reflecte numa grande determinação por parte dos jogadores russos. As duas equipas são verdadeiras potência tanto no ataque como na defesa, embora o rigor defensivo dos russos seja a sua imagem de marca, enquanto Portugal é caracterizado sobretudo pelo seu jogo ofensivo de belo efeito.

Estado Físico e Psicológico

A selecção nacional portuguesa ainda não está na sua máxima força, dado que a época ainda se encontra numa fase inicial e alguns processos ainda têm de ser aperfeiçoados. No entanto, o grande problema reside na saída de três peças fundamentais do jogo da equipa lusitana (Sousa, Torres, Zé Maria), pelo que se tornou necessário chamar novos jogadores, cuja integração na selecção nacional ainda está a decorrer, com sucesso, é certo, mas gradualmente, no tempo que uma renovação da equipa precisa para se verificar. Assim, a qualidade da equipa portuguesa será certamente superior daqui a alguns meses. Mas isso não quer dizer que Portugal não esteja a jogar bem agora, tal como não quer dizer que não vença a Taça da Europa!

Os russos já tinham começado a sua preparação antes do início dos trabalhos da selecção portuguesa, motivo pelo qual levam um avanço natural. Contudo, essa vantagem pode perfeitamente não se materializar, no caso de os jogadores lusos estarem suficientemente concentrados. Além de tudo o mais, a Rússia tem as suas próprias cisões: Egor Shaykov, uma das referências do ataque, abandonou a selecção, devido aos compromissos futebolísticos. No entanto, trata-se de uma única ausência, facilmente colmatada por Eremeev, que se está a destacar no seio da equipa russa. De resto, o treinador anterior, Nikolai Pisarev, demitiu-se do cargo, dado que ia desempenhar uma função na estrutura organizativa do futebol do seu país. Os atletas não ficaram contentes com a decisão, mas tal não se reflectiu no jogo da equipa, até porque o adjunto de Nikolai Pisarev está a fazer um bom trabalho.

Conclusão: não podemos prever o resultado do Portugal vs Rússia da final. Um jogo equilibrado, com muita luta, as equipas com grandes preocupações defensivas e muita insistência no ataque para encontrar espaços que possam conduzir ao golo. Eventualmente, o jogo poderá abrir, mas isso não é muito comum num jogo frente aos russos, a não ser que sejam eles os beneficiados. Acredito na vitória de Portugal e, tendo em conta a forma como os bravos atletas portugueses se bateram perante os seus anteriores adversários, penso que não há razão para não serem capazes de derrotar a Rússia e conquistar o troféu.

FORÇA PORTUGAL!

Spring Cup Viseu 2010: Que pena! Suíça derrota Portugal e Rússia conquista título.

Ao contrário dos dias anteriores, hoje não foi nada fácil tomar a iniciativa de escrever este post sobre a Spring Cup. Na verdade, tenho muita pena de Portugal não ter vencido a competição, tudo por causa de uma derrota infeliz nesta tarde frente à Suíça, por 4-3. No entanto, vejo a redacção deste artigo como um dever, dada a minha paixão pela modalidade do futebol de praia e a grande admiração que tenho pela selecção nacional portuguesa.

Justamente, no jogo que encerrou o torneio indoor em Viseu, os jovens jogadores portugueses deram mais uma vez provas capitais das suas excelentes capacidades, encarando um desafio de grande dificuldade com muita concentração, determinação e vontade de vencer. São os maiores. Por isso me sentiria mal comigo mesmo se não escrevesse este post. E, à medida que as primeiras palavras vão saindo, dando forma às linhas inaugurais deste artigo, vou começando a sentir um enorme alívio por expressar aquilo que penso e sinto com o mundo, partilhando estas emoções de adepto dedicado e fervoroso.

Portugal vs Suíça: o jogo das decisões finais

Depois da vitória da selecção russa sobre a Inglaterra, que eu já previra anteriormente, o confronto entre lusitanos e helvéticos afigurava-se aos olhos dos espectadores como o jogo de todas as decisões, de importância fulcral para a definição da classificação final. Deste modo, em caso de vitória portuguesa, a selecção da casa venceria o troféu, deixando os russos na segunda posição e os suíços na terceira, mas na eventualidade de um triunfo suíço, a campeã seria a selecção de leste, surgindo a confederação helvética em segundo lugar e os lusos em terceiro. Estes cenários verificar-se-iam quer a partida fosse decidida em tempo regulamentar quer a decisão fosse adiada para prolongamento ou grandes penalidades.

Infelizmente, foi a segunda eventualidade que se verificou, com um jogo espectacular, de grande qualidade, no qual a Suíça acabou por emergir como a equipa vitoriosa. O resultado final, com 4 golos helvéticos contra 3 tentos de Portugal, espelhou esse equilíbrio que se fez sentir dentro de campo, numa partida em que o triunfo sorriu à selecção da Europa Central. As duas equipas estão de parabéns pelo seu bom desempenho e pela magnífica actuação com que brindaram o público viseense, exemplar no apoio aos jogadores da selecção nacional, com o Pavilhão Multiusos completamente preenchido, em lotação esgotada.

Os tentos suíços, todos de jogadores diferentes, foram apontados por Meier, Mo, Rodrigues e Stankovic, obtendo o seu oitavo golo na prova. Já Portugal marcou por intermédio do inevitável Belchior, que voltou a bisar, e o incansável Zé Maria, que conseguiu um golo merecido nesta Spring Cup. Portugal terminou o 1º período em vantagem, vencendo por 2-0, mas a Suíça empatou o jogo no 2º período, com dois golos em momentos cruciais. O 3º período trouxe mais emoção ao Pavilhão Multiusos, com Portugal a marcar primeiro, mas a Suíça a reagir com dois golos que lhe valeram a vitória na partida e o 2º lugar na classificação final do torneio.

1º período

Na necessidade de fazer face ao problema causado pela suspensão de Durval, que fora expulso no dia anterior frente aos russos, o seleccionador nacional José Miguel Mateus optou por utilizar o mesmo cinco inicial que jogara a titular nos jogos anteriores, substituindo o jogador castigado pelo número 13, Paulo Neves. Deste modo, Portugal alinhou com Paulo Graça, Sousa, Torres, Neves e Belchior, sendo necessária uma gestão inteligente das substituições para colmatar a ausência de Durval, o que exigiu um esforço adicional aos atletas lusos. Por seu turno, Angelo Schirinzi decidiu proceder a algumas alterações nos titulares em relação ao jogo inaugural diante da Rússia, trocando o guarda-redes Nico Jung pelo seu habitual substituto, Valentim Jaeggy, e o número 7, Sandro Spaccarotella, pelo jovem Michael Rodrigues. Os helvéticos entraram em campo com Vale, Spacca, Leu, Mo e Stankovic.

Se no jogo anterior, diante da Rússia, Portugal tinha apresentado algumas dificuldades no 1º período, desta vez a história da partida foi totalmente diferente, com a selecção nacional a conseguir o comando das operações muito cedo. Após os instantes iniciais da partida, durante os quais se verificou algum equilíbrio de parte a parte, Portugal conseguiu, gradualmente, tomar as rédeas do jogo, começando a criar perigo para a baliza helvética por meio de livres directos e uma ou outra jogada bem executada. Foi através de um livre de Belchior, cobrado no meio-campo russo, descaído para o lado esquerdo, que o número 10 de Portugal fez o primeiro golo da tarde, num remate muito bem direccionado. 1-0 para Portugal.

A Suíça raramente criava perigo, apesar da pressão alta que os jogadores suíços mais avançados no terreno colocavam nos portugueses. O remate de Rodrigues à barra da baliza de Paulo Graça, na sequência do pontapé de saída, foi, no entanto, uma excepção, na medida em que os defesas portugueses protegeram magnificamente as suas redes. Enquanto isso, Portugal ia tentando dilatar a vantagem, praticando uma boa circulação de bola e procurando criar ocasiões de golo, já com a segunda linha em campo. Foi quando Belchior entrou para o lugar do infatigável Torres que a equipa portuguesa chegou ao segundo golo: numa boa jogada de entendimento pela esquerda, entre o jovem capitão e José Maria, Belchior assistiu o colega que, rematando prontamente, introduziu a bola na baliza defendida por Vale. Portugal fazia assim o 2-0 no marcador.

Após este momento espectacular, a equipa portuguesa continuou em busca de novos golos, criando inúmeras situações para marcar. Belchior, Zé Maria, Torres, todos tentaram visar a baliza suíça, que se manteve impenetrável até ao fim do 1º período, para infelicidade dos nossos jogadores, que estavam a protagonizar uma exibição segura e destemida. A vantagem lusa por duas bolas a zero no final desta primeira etapa do jogo era perfeitamente merecida, e não teria sido injusto um resultado mais avolumado. Foi de facto formidável a prestação da selecção nacional, aproveitando uma entrada pouco fulgurante dos helvéticos.

2º período

No segundo período de jogo, as coisas não correram de feição à selecção nacional de futebol de praia, com a Suíça a entrar muito determinada e a conseguir um golo logo nos instantes iniciais. Stephan Meier, um histórico avançado helvético, aproveitou um passe pelo ar para executar um soberbo pontapé de bicicleta, com a bola a entrar na baliza de João Carlos Delgado mesmo junto ao poste. Um grande golo, no qual o guarda-redes português esteve totalmente isento de culpas, e só poderia ter sido evitado com uma marcação mais forte à estrela suíça.

A vantagem de Portugal era assim reduzida para a margem mínima, ficando o marcador em 2-1 a favor da selecção nacional. Este golo moralizou os suíços, que ganharam forças para lutar pelo empate, aproximando-se cada vez mais da baliza portuguesa e dispondo de algumas boas oportunidades. No entanto, graças ao acerto defensivo da nossa equipa e uma tarde concentrada de João Carlos, bem como alguma falta de eficácia dos suíços, permitiu a manutenção do resultado, numa fase do jogo em que Portugal se começou a soltar e a procurar um golo que devolvesse a vantagem de 2 golos.

Foi provavelmente a melhor altura do jogo, com ambas as equipas a praticarem o melhor futebol de praia ofensivo, com ocasiões para as duas equipas, oferecendo muito trabalho aos guarda-redes adversários e proporcionando um espectáculo fantástico ao publico presente. Todavia, a pouco e pouco, Portugal ia começando a dispor de mais oportunidades de golo, que não concretizou por manifesta falta de sorte e grandes actuações dos guarda-redes suíços, Valentim e Nico. A Suíça, que mantinha os índices de competitividade elevados, conferindo uma grande intensidade ao jogo, sem no entanto conseguir a construção de jogadas de perigo, apenas obtinha situações para marcar de bola parada, em livres muito longe da baliza, devido aos nervos dos jogadores portugueses. Felizmente, nenhum destes remates entrou na baliza de João Carlos, exímio na defesa dos poderosos chutos de Meier e companhia.

Apesar da hegemonia lusitana, o terceiro golo tardava em surgir, o que gerava uma grande intranquilidade nos jogadores da selecção nacional. A pouco e pouco, tal como o tinha conseguido, Portugal foi perdendo esse domínio de jogo, com as combinações no ataque a saírem com mais dificuldade e a equipa da Suíça a voltar a criar mais perigo para as redes de lusas. Deste modo, o equilíbrio era a nota dominante no final do 2º período, com ocasiões de golo para os dois lados, sem que as equipas tirassem proveito das mesmas. Por esta altura, quando tudo parecia indicar que Portugal iria para o 3º período em vantagem por um golo, após uma oportunidade desperdiçada por Belchior, um balde de água fria atingiu o Pavilhão Multiusos: o capitão suíço, Moritz Jaeggy, respondendo a um lançamento de Nico Jung, rematou de primeira, à meia volta, fazendo o empate, sem hipóteses para João Carlos.

Uma pequena falha da defensiva portuguesa custava assim a vantagem e o resultado no fim desta segunda etapa era 2-2. A suíça marcava num momento crucial do jogo e anulava o excelente resultado que os pupilos de Zé Miguel haviam trazido do 1º período. De realçar que, apesar do aumento do ritmos de jogo imposto pelos helvéticos, o 2º período foi globalmente equilibrado, incluindo períodos de maior domínio suíço, outros de hegemonia portuguesa e ainda outros em que as duas equipas se equivaleram. Com ambos os guarda-redes de ambas as selecções a serem chamados a intervir várias vezes, foi claramente o melhor período de jogo, no qual a eficácia acabou por ser determinante para que Portugal perdesse a preciosa vantagem.

3º período

Na entrada para o derradeiro segmento do jogo, o seleccionador nacional, desejando repor a vantagem no marcador, colocou em campo um cinco muito ofensivo, com Coimbra, Torres, Belchior e Zé Maria, regressando Paulo Graça à baliza portuguesa. Esta medida teve efeitos extremamente positivos, com Portugal a conseguir chegar ao terceiro golo imediatamente na primeira jogada de perigo: uma grande arrancada de José Maria, passando em velocidade por um defesa suíço, foi a chave para o sucesso deste ataque, com o número 9 português a alcançar a linha de baliza e a meter para Torres, que deixou a bola chegar até Belchior, e o capitão lusitano, com a força espiritual que lhe conhecemos, atirou a contar para o fundo das redes defendidas por Nico. Estava feito o segundo golos de Belchior no encontro, que devolvia a vantagem ao conjunto português, de forma claramente merecida: 3-2 favorável à selecção da casa.

As investidas ofensivas de Portugal não se ficaram por aqui, com o quarteto de jogadores de campo português a prodigalizar aos inúmeros adeptos presentes no recinto as mais belas jogadas de futebol de praia, que por infelicidade não resultaram em novos tentos. Foi pena, porque um golo marcado naquela altura colocaria Portugal numa situação privilegiada, sobretudo pelo impacto psicológico que poderia ter na equipa helvética. Porém, tal não aconteceu, apesar das corajosas tentativas de Torres, Belchior e Zé Maria.

A dado momento, o número 9 português, completamente exausto, teve de ser substituído, e foi exactamente nessa altura que a Suíça, até então perfeitamente inócua no ataque, marcou o seu terceiro golo e voltou a empatar a partida. Rodrigues, o mais jovem talento na equipa de Schirinzi, com sangue português nas veias, na sequência de um lançamento longo de Nico, aproveitou uma desatenção na defesa portuguesa e rematou exemplarmente para o fundo da baliza de Graça, num gesto técnico que demonstra bem as suas enormes aptidões. E assim, numa altura em que Portugal estava inequivocamente por cima do jogo, acabava por sofrer um novo golo do empate, que colocava o resultado em 3-3.

A reacção dos jogadores lusos ao golo suíço foi muito positiva, com a equipa a procurar um quarto golo, lutando contra o cansaço e a fadiga psicológica, apesar do impacto profundo que o golo de Rodrigues teve na selecção nacional. O jogo voltou a ser ligeiramente mais equilibrado, embora Portugal tenha pertencido no comando das operações, dispondo de mais situações de perigo. No entanto, a Suíça também ia criando as suas ocasiões, sendo que o golo poderia surgir para qualquer um dos lados. Infelizmente, a maior concentração dos jogadores suíços acabou por prevalecer sobre a vontade e garra lusitanas, com uma falha de marcação de Coimbra a possibilitar que Dejan Stankovic recebesse a bola numa zona muito propícia a uma boa finalização. O melhor jogador do último mundial, que ainda não marcara nesta tarde, teve a calma suficiente para superar a oposição de Paulo Graça e colocar, pela primeira e única vez no jogo, a sua equipa em vantagem: 4-3 no placar, Portugal em desvantagem.

A menos de 4 minutos do fim do jogo, era urgente conseguir um golo para evitar a derrota e manter vivas as esperanças de conquistar a Spring Cup. Zé Miguel, crente nas capacidades dos seus jogadores, colocou em campo os jogadores mais ofensivos, passando Sousa a colaborar com o trio Torres, Zé Maria e Belchior. Tudo tentaram os nossos atletas para repor a igualdade no marcador, num último esforço titânico, sacrificando tudo o que tinham e o que não tinham, como disse o seleccionador nacional após o jogo, pelo presente que tentaram oferecer ao incansável público viseense. Valorosos guerreiros lusitanos, que tudo fizeram para vencer esta batalha final, travada na cidade do seu chefe mítico, o grande Viriato.

Para grande pesar dos apoiantes da nossa selecção, que encheram as bancadas do Pavilhão Multiusos, e para grande tristeza minha, as tentativas destemidas dos nossos jogadores não foram bem sucedidas, com a vantagem suíça a prevalecer no marcador. A atitude dos atletas lusos, porém, foi louvável, como fiz questão de realçar, impondo uma grande intensidade de jogo e procurando o empate até ao fim, dispondo de inúmeras situações de golo, que não se materializaram pela boa prestação de Nico, o inevitável desgaste físico da nossa selecção e algum azar à mistura.

Naturalmente que tive muita pena de termos perdido, mas a elevada qualidade do futebol de praia apresentado pela selecção nacional neste jogo, numa exibição muito bem conseguida, e sobretudo a postura heróica dos atletas lusitanos, enche-me de orgulho na nossa equipa e deixa-me feliz por admirar e apoiar esta grande família. Como dizia Fernando Pessoa, Tudo vale a pena se a alma não é pequena.

Spring Cup Viseu 2010: Sublime! Portugal vence Rússia em penaltis!

Não caibo em mim de contente. Após uma série de três derrotas frente à selecção russa, no ano de 2009, Portugal voltou a vencer a congénere de leste, com uma exibição segura e personalizada, que acabou por culminar num triunfo em grandes penalidades.

O jogo terminou empatado a três bolas, sendo o equilíbrio e a qualidade das equipas as notas dominantes. Os golos portugueses foram apontados por Belchior, que bisou, e Durval, que marcou por uma ocasião, enquanto os tentos russos tiveram a assinatura de Eremeev, que inaugurou o marcador, e Aksenov, que marcou por duas vezes no último período de jogo.

Dado que em futebol de praia não pode haver empates, a partida continuou, jogando-se 3 minutos de prolongamento. Uma vez que não foi marcado qualquer golo neste período suplementar, a decisão foi adiada para as grandes penalidades, em sistema de morte súbita, com Portugal a executar a primeira grande penalidade de cada série. Belchior e Eremeev marcaram, Torres e Shkarin também, e foi na terceira série que tudo se decidiu: Paulo Neves converteu o seu penalti e Paulo Graça defendeu o remate potente de Makarov, dando assim a vitória às cores nacionais.

Tenho de festejar e desfrutar deste sentimento de alegria que me invade de uma forma muito especial. Foram magníficos, os heróis das praias de Portugal. O poder da juventude lusitana triunfou sobre a frieza táctica dos gelos orientais.

Suíça 4 – 2 Inglaterra: Stankovic marca 4 golos em jogo do qual nada sei

Era o segundo dia de jogos na Spring Cup Viseu 2010. Por volta das 13:30 disputou-se, na arena do Pavilhão Multiusos, a primeira partida do dia, que colocava frente a frente a poderosa selecção helvética e o conjunto britânico, equipa modesta mas muito organizada.

Ambas as equipas tinham perdido os seus jogos no dia inaugural da competição, por isso necessitavam de uma vitória para manter vivas as esperanças de poder vir a conquistar o troféu. Dada a diferença abismal entre as duas selecções, previa-se um triunfo suíço e, presumivelmente, uma eventual goleada, tendo em conta a propensão dos pupilos de Angelo Schirinzi para trucidar as equipas mais débeis.

Conforme se esperava, a Suíça bateu a Inglaterra no primeiro jogo deste segundo dia de jogos da Spring Cup Viseu 2010, somando assim três preciosos pontos. O resultado final foi de 4-2 a favor dos helvéticos, sendo que o Bola de Ouro e Bota de Ouro do Mundial 2009, Dejan Stankovic, voltou a brilhar, marcando 4 golos e guiando a sua equipa à vitória na partida. Temos futebol de praia na Spring Cup!

Recorde-se que este jogo não teve transmissão directa nos canais SPORT TV e, por esse mesmo motivo, não tive a oportunidade de assistir ao confronto, nem pude conferir o seu resultado final. Foi pena, pois gosto muito de ver as actuações da equipa suíça.

Portugal 3 – 3 Rússia | prolongamento: POR 3 – 3 RUS | penaltis: POR 3 – 2 RUS

Infelizmente, devido a um início de tarde atribulado e um almoço tardio, acabei por não assistir aos momentos formais que antecederam o jogo, perdendo assim os hinos nacionais e a entrevista ao seleccionador nacional, mas também os primeiros 6 minutos de jogo, o que não me deixou nada satisfeito. Recorde-se que eu estou a acompanhar os jogos através de emissões online da SPORT TV 2, no extralive.tv, um site que permite a visualização de vários canais de televisão em directo.

Em todo o caso, quando cheguei ao meu quarto, onde o computador já estava no canal SPORT TV 2 do extralive.tv, o continuava a persistir o nulo no marcador, e segundo o narrador e o comentador, o jogo estava a ser muito equilibrado, praticamente sem ocasiões de golo e pouca emoção, num ambiente menos espectacular. Situação esta fácil de compreender, dado que a selecção russa se destaca pela sua enorme frieza defensiva, com um excelente registo de golos sofridos, e Portugal, com muita coesão entre os seus jogadores, também tem demonstrado uma extraordinária solidez ao nível da defesa ao longo deste torneio. De resto, se olharmos para o historial de confrontos entre as duas selecções, as equipas costumam ser muito cautelistas nos instantes iniciais da partida, mantendo a posse de bola e procurando o primeiro golo sem grandes pressas, dando maior importância ao aspecto defensivo.

1º período

Os primeiros momentos do jogo que eu testemunhei corresponderam a um ligeiro ascendente de Portugal no terreno, conseguindo a aproximação à baliza adversária. Contudo, imediatamente após estas ousadias lusitanas, os russos começaram a comandar as operações, logrando criar algumas situações de perigo, inauguradas por um cabeceamento de Strutinskiy para defesa complicada de Paulo Graça. Numa das jogadas seguintes, Bilro teve um momento de infelicidade e, levado pelas emoções da partida, fez uma falta sobre Eremeev muito perto da área portuguesa. O livre directo, em posição privilegiada, foi marcado com sucesso, pelo jogador que havia sofrido a falta, passando assim a Rússia para a frente do marcador. Oh, NÃO!!!

Todavia, decorria ainda o primeiro período de jogo, pelo que Portugal dispunha de muito tempo para alterar os números do marcador. Em todo o caso, o seleccionador nacional, José Miguel Mateus, consciente das dificuldades que a sua equipa estava a enfrentar, resolveu substituir todos os jogadores de campo, regressando ao jogo a mesma equipa que havia iniciado a partida. Com Belchior em campo, o rumo dos acontecimentos mudou radicalmente: a sua impetuosidade natural impeliu a equipa para o ataque e, sem desanimar, os lusos procuraram o golo do empate.

Um remate em pontapé de bicicleta do número 10 de Portugal levou muito perigo à baliza defendida por Ippolitov, pressagiando aquilo que alguns momentos depois se viria a verificar. Numa onda ofensiva da equipa das quinas, aumentando a pressão sobre a defensiva russa, Belchior foi carregado em falta e conquistou um livre muito longe da baliza adversária, atrás da linha imaginária do meio-campo, junto à linha lateral do lado esquerdo. O grau de dificuldade do livre era bem elevado, mas nada que impeça o sucesso do nosso jovem jogador: com um remate potente, direccionando a bola para junto do poste direito da baliza russa, sempre junto ao solo, Belchior beneficiou de um ressalto na areia que enganou Ippolitov para restabelecer a igualdade no marcador: 1-1.

Até ao final do 1º período, Portugal manteve-se mais balanceado no ataque, dispondo de algumas situações para chegar à tão ambicionada vantagem. Belchior, Torres e Durval protagonizaram jogadas de grande entendimento da turma portuguesa, a última das quais estava reservada para os segundos finais do período: Torres apodera-se da bola numa zona de grande perigo e, tendo um defesa adversário pela frente, fez um passe para Durval, que rematou com determinação, mas o guardião russo estava atento e conseguiu desviar para canto, numa defesa de grande nível. No entanto, não houve mais golos e as duas equipas foram empatadas a um a bola para o primeiro intervalo.

2º período

O 2º período foi um pouco semelhante ao primeiro, com a significativa diferença de não ter proporcionado golos aos cerca de mil espectadores que estavam presentes nas bancadas do Pavilhão Multiusos. Nos outros aspectos do jogo, o equilíbrio entre as duas selecções continuou a ser notável, bem como a grande dedicação das equipas ao jogo e o empenho em não conceder qualquer golo. Portugal teve períodos de maior circulação de bola, em que deteve, de certa maneira, o domínio do jogo, tal como a Rússia também dispôs de uma maior circulação de bola em certas fases do 2º período.

No começo do jogo, o conjunto nacional logrou impor um ritmo de jogo mais acentuado, controlando as operações e criando perigo para a baliza adversária. Belchior e Torres entendiam-se às mil maravilhas no ataque lusitano. Este ascendente português acabaria por não se materializar em golos e, progressivamente, a Rússia começou a entrar mais em jogo, equilibrando novamente a partida, quando a segunda equipa portuguesa entrava em campo. A sublinhar a grande capacidade defensiva da selecção nacional que, em momentos de maior pressão por parte dos adversários, não vacilou e conseguiu neutralizar as investidas russas. Enquanto isso, algumas boas combinações de Zé Maria, Neves e Coimbra iam mostrando que Portugal continuava a procurar o golo.

O regresso de Belchior, Torres, Durval e Sousa voltaria a ser benéfico para o conjunto lusitano, que acabaria o 2º período em cima da Rússia, tal como acontecera anteriormente, no 1º período. Sem golos, algumas oportunidades para ambas as equipas, o empate prevaleceu, incólume: 1-1.

3º período: domínio avassalador!

O derradeiro período de jogo, como que naturalmente, reservava emoções mais intensas aos amantes da modalidade que estivessem a seguir o duelo, entre os quais me encontro. A aproximação do fim da partida obrigava ambas as equipas a tentar alcançar a vantagem, apostando um pouco mais no sector ofensivo. De resto, compreende-se facilmente que as equipas arrisquem mais neste 3º período e acabem por ser obrigadas a cometer erros, em virtude do sempre influente factor psicológico.

Devo dizer que Portugal esteve por cima do jogo neste terceiro período, entrando em campo com muita vontade de vencer e acabar com o empate que perseguia as duas equipas desde o tento de Belchior. A Rússia, sempre muito fria e cautelista, parecia determinada a não conceder mais golos, mas não foi capaz de contrariar mais um poderoso ascendente da nossa selecção. Mais uma vez, Belchior liderou o jogo ofensivo de Portugal, iluminando a arena do pavilhão com a sua técnica formidável. Um livre de muito longe foi uma das principais oportunidades para o segundo golo de Portugal, mas Ippolitov conseguiu suster o remate do 10 lusitano, e a recarga de Sousa embateu num defesa russo.

A pressão atacante de Portugal era cada vez mais intensa, permitindo a antevisão do belíssimo momento de futebol de praia que estava para acontecer: Belchior, sensivelmente no meio-campo, levantou a bola e fez um passe soberbo para Torres, e o número 4 português, cheio de inspiração, executou um magnífico pontapé de bicicleta. o remate ainda foi defendido pelo jovem guarda-redes russo, mas Durval, que lutava pelo seu espaço no interior da área russa, chutou triunfalmente a bola para o interior da baliza adversária. Estava feito o segundo golo de Portugal, que pela primeira vez no jogo ficava em vantagem: 2-1 no placar, graças a um golo muito celebrado do jovem Durval.

O jogo estava a aquecer para o lado português, sem que a Rússia conseguisse reagir à superioridade do jogo de Portugal. As jogadas da selecção nacional continuavam a acontecer e, num lance algo confuso, a equipa de todos nós acabaria por dilatar a vantagem. Um jogador português (não me recordo quem) fez um passe para Belchior, mas a bola ia demasiado alta e Ippolitov conseguiu agarrar a bola, saltando sobre o 10 de Portugal, que se baixava para não ser atingido pelo guarda-redes adversário. Porém, este último chocou com Belchior em pleno salto, desequilibrou-se e largou a bola, caindo de forma desamparada na areia, onde acabou por dar uma cambalhota para a frente forçada (deve ter doído!). Ora a bola ficava à mercê do 10 português, que, de baliza aberta, só teve de encostar, marcando mais um golo muito festejado em Viseu (tanto pelo público como pelo próprio Belchior).

Nesta altura, Portugal dispunha de uma confortável vantagem de 2 golos, vencendo por 3-1, e dominava realmente a partida, continuando a criar novas oportunidades para marcar, com a equipa russa sufocada no seu meio-campo. Torres teve nos pés uma soberba ocasião para dilatar ainda mais a vantagem e matar o jogo, após um excelente trabalho de equipa, em combinação com Durval, mas não conseguiu bater Ippolitov, seguro entre os postes.

3º período: Contratempo!

Contudo, quando tudo corria pelo melhor aos pupilos de Zé Miguel, uma perda de bola no ataque viria a alterar o curso do jogo, revelando-se determinante para o resultado final. Com efeito, estando a equipa das quinas concentrada no aspecto ofensivo, acabou por permitir um contra-ataque muito perigoso ao conjunto russo, com a velocidade de Aksenov a fazer a diferença. Durval, que tentava acompanhar a corrida do jogador adversário, não conseguiu chegar a tempo, acabando por travar o jogador em falta. Era um livre muito perigoso para a baliza defendida por Paulo Graça, mas o pior foi a sanção disciplinar aplicada ao jovem português: viu o cartão vermelho e foi expulso do jogo, condenando Portugal a um período de 2 minutos com menos um jogador em campo.

Aksenov, com aquela frieza que caracteriza os russos, não vacilou e aproveitou o livre da melhor maneira, marcando um golo muito importante para a sua equipa, ao reduzir a desvantagem para a margem mínima. Na sequência da alteração inesperada da situação do jogo, o treinador português, José Miguel Mateus, alterou a equipa que estava em campo, trocando Belchior, Torres e Sousa por Zé Maria, Bilro e Coimbra. Esta segunda equipa, deixando de fora Paulo Neves, assumia contornos mais defensivos, evidenciando a preocupação do seleccionador nacional em preservar a vantagem no marcador.

A opção foi acertada, pois o conjunto luso, muito disciplinado, fez tudo o que podia para conservar o resultado, protegendo a baliza de Paulo Graça com bravura! Os três jogadores de campo, muito concentrados, não concederam espaços aos adversários e conseguiram suster o resultado durante grande parte do tempo, mantendo a posse de bola sempre que possível. Porém, a escassos segundos do período de inferioridade numérica, após ter roubado a bola aos atacantes russos, Coimbra, que estava a fazer uma exibição de grande nível, atrapalhou-se perante a pressão dos adversários e acabou por perder a bola numa zona muito perigosa, com os jogadores de leste a serem tremendamente eficazes e a marcarem o golo do empate, apontado por Aksenov com assistência de Krasheninikov. Que pena!

No entanto, apesar deste autêntico balde de água fria, reposta a normalidade do jogo de 5 contra 5, Portugal fez tudo por recuperar a vantagem, jogando com Belchior, Torres, Bilro e Coimbra em campo (Coimbra acabaria por sair para dar lugar a Sousa). O resultado persistiu, obstinado, como se nada o pudesse alterar, mas a selecção nacional tentou de tudo para desequilibrar o jogo e recuperar a vantagem merecida. Várias oportunidades foram criadas pelas cores nacionais, e, é justo dizer, a Rússia também teve uma ou duas suas ocasiões, apesar do ascendente lusitano. De qualquer forma, como já referi, não houve mais golos, nem mesmo quando Belchior rodou sobre um adversário e rematou com a bola a passar muito perto da baliza. Enfim, o 3-3 era um resultado que se aceitava, levando o jogo para prolongamento.

Decisão final: Prolongamento e Grandes Penalidades

Não houve golos nos três minutos de extratime. Ambas as equipas tentaram apontar um derradeiro golo, que lhes conferisse a vitória, sem precisar de recorrer a grandes penalidades. Mais uma vez, a turma portuguesa mostrou uma grande vontade de vencer e uma energia inesgotável, empurrando a Rússia para o seu meio-campo e procurando a criação de situações de perigo. Por seu turno, com a calma e paciência do costume, os russos iam resistindo às investidas lusas, permanecendo sempre perigosos no contra-ataque. Se bem me recordo, houve duas oportunidades para Portugal e um para a Rússia, num prolongamento que obedeceu aos moldes do jogo: equilíbrio dinâmico, com grande acerto defensivo e muita concentração, numa ligeira mas notável supremacia portuguesa que, no entanto, não se materializava em golos.

Os penaltis reservavam uma explosão de emoções ao público presente no Pavilhão Multiusos e aos telespectadores via SPORT TV 2. Após um período de moralização das duas selecções, em que os jogadores de ambas as equipas se prepararam psicologicamente para todas as decisões, o árbitro deu início à marcação de grandes penalidades, com Portugal a marcar primeiro. Belchior, num remate muito forte, cumpriu a sua função, assim como Eremeev, que rematou inteligentemente para o meio da baliza. Torres também marcou, numa grande penalidade superiormente executada, antes de Shkarin fazer o gosto ao pé, num remate que Paulo Graça por pouco não defendia. Foi a vez do jovem Paulo Neves, de Guimarães, enfrentar Ippolitov, e o corajoso atleta conseguiu mesmo bater o guardião russo, antes de Makarov, de quem Portugal guardava más memórias, atirar para uma defesa prodigiosa (mais uma!) do guarda-redes Paulo Graça!

Assim, Portugal derrotou os rivais russófonos com uma gigantesca intervenção do seu valente número 12, que começa a tornar-se um especialista a parar grandes penalidades. Após esta magnífica defesa de futebol de praia, todos os jogadores nacionais correram em direcção a Paulo Graça, abraçando-o e saltando para cima dele, asfixiando o guarda-redes português num fantástico momento de expressão emocional. E todos sorriam, alegremente, delirando com esta grande vitória sobre os eternos rivais de leste, que tanta resistência haviam oferecido, num duelo espectacular, que os viseenses recordarão durante muitos anos!

Spring Cup: situação actual

O panorama actual da Spring Cup Viseu 2010 é muito simples. Portugal lidera a classificação, com 5 pontos, resultantes de uma vitória frente à Inglaterra (3 pontos) e um triunfo em grandes penaltis frente à Rússia (2 pontos). Seguem-se a selecção russa, com 3 pontos, fruto de uma vitória diante dos helvéticos, e a própria Suíça, também com 3 pontos, após o triunfo de hoje contra a equipa britânica. Por fim, a Inglaterra surge no quarto lugar da prova, sem qualquer ponto, dado que perdeu os dois jogos que já disputou, não obstante as suas prestações muito conseguidas.

Amanhã teremos um Rússia vs Inglaterra ao início da tarde, pelas 14:30, sem transmissão televisiva, seguido de um emocionante Portugal vs Suíça, agendado para as 16:00, com transmitido para todo o país via SPORT TV 2, jogo esse que promete e vai decidir a conquista do torneio em Viseu. Já sabem que poderão acompanhar o desafio aqui.

Penso que não é lícito duvidar do triunfo dos russos frente à selecção inglesa, dada a acentuada diferença entre as duas selecções, por muito bem preparados que os bretões se encontrem. Assim, devemos contar com 6  pontos para a Rússia no final desta competição, sendo, por isso, necessário que Portugal vença a Suíça para conquistar a Spring Cup. Caso a Suíça consiga derrotar Portugal, a Rússia será campeã, com os helvéticos em segundo lugar e Portugal na terceira posição. Uma vitória lusitana, pelo contrário, lança os discípulos de José Miguel para o primeiro lugar do torneio, com os russos em segundo e a Suíça em terceiro.

Independentemente das contas, que têm de ser feitas, o objectivo de Portugal seria sempre um e ó um: vencer a Suíça no derradeiro jogo da competição e brindar os adeptos locais com mais uma grande vitória dos lusitanos em terras de Viriato. Por conhecer o espírito de equipa que se vive na selecção nacional e acreditar no valor dos nossos atletas, tenho esperanças numa vitória de Portugal diante dos helvéticos e na conquista da Spring Cup pela selecção nacional. Força, pessoal! Vamos conseguir!

Uma palavra à nossa selecção

Estão todos de parabéns, rapazes. Fizeram um jogo fabuloso, numa prestação ao mais alto nível, demonstrando que, com união e muita determinação, é possível vencer qualquer adversário em quaisquer circunstâncias. Estiveram todos muito bem e foi graças à vossa energia, à vossa garra, à vossa vontade que venceram este desafio. Estou muito orgulhoso de todos e tenho consciência do que esta vitória representa. Depois de três derrotas consecutivas frente aos russos, temos agora uma nova vitória para festejar animadamente! E mais! Provaram que, mesmo sem jogadores como Madjer e Alan, mas também Bruno, Bruno Novo e Tavares, a selecção nacional de futebol de praia tem um vasto plantel, com muita qualidade, numa amostra de juventude que constitui uma receita para o sucesso.

Com apenas um ou dois treinos antes da competição, demonstraram que são uma grande equipa, capazes dos maiores feitos e derrotar as melhores selecções. Claro que a Rússia também estava desfalcada, e ainda poderia fazer melhor do que isto. Mas a forma de jogar deles não muda nada e as novas esperanças também são grandes jogadores. Por essa razão, é sempre extremamente difícil vencer a Rússia e só uma grande selecção consegue essa façanha. Vocês conseguiram. Estão de parabéns!

Paulo Graça, João Carlos, Sousa, Bilro, Coimbra, Torres, Durval, Paulo Neves, Zé Maria e Belchior.

Zé Miguel, Jhony Conceição, Manuel Virgolino, João Morais, Farinha e Juju.

Estão todos de parabéns!