Músicas que nos marcam: Liebestraum (Franz Liszt)

Todos temos músicas que nos marcam profundamente. Diferentes pessoas, em momentos distintos da sua vida, inspirados de um modo particular pela beleza de viver, sentem esta impressão maravilhosa por peças musicais muito variadas, enquadradas numa espantosa diversidade de sons e experiências.

Mas como descrever esta sensação espantosa que repetidamente surge na história biográfica de cada um? Parece-me que nos resta procurar uma explicação baseada na sua inexplicabilidade! Na minha perspectiva, incompreensivelmente, estas preciosidades musicais conquistam a nossa alma, num momento de magia, de imponderabilidade… como se a beleza dos sons nos guiasse numa viagem, harmoniosamente leve, por entre as suaves nuvens de veludo… ou uma aventura vibrante num bosque colorido, como num jovem rio que desce alegremente o seu leito cristalino… ou nos libertasse da prisão corporal em que somos forçados a viver e nos permitisse contemplar, em toda a sua extensão, a melancolia latente que nos dominou e nos oprimiu tão cruamente…

Talvez o processo não seja bem este, nas suas manifestações, mas a sua essência transcendental carrega indubitavelmente uma magia profunda e flutuante que nos domina quando escutamos o som emanado. Admito alguma incoerência nas definições, mas o seu valor reside justamente na sua subjectividade, naquilo que o fenómeno representa para mim.

Liebestraum

Em artigos anteriores, já vos trouxe belos momentos musicais, que considero estarem no topo das minhas preferências, pelo significado que têm para mim e pela riqueza de sensações que experimento ao escutar estas peças. No entanto, em tempos recentes, a minha selecção de relíquias musicais recebeu uma nova frescura, desta vez referente ao auge do romantismo do século XIX (uma época de grandes revoluções na música). De facto, tenho escutado esta peça repetidas vezes nas últimas semanas, deixando fluir em mim a magnificência natural e simples de tão bela produção da mente humana…

Falo de Liebestraum, uma peça para piano datada de 1850, da autoria do compositor húngaro Franz Liszt. Terceira secção de uma sequência de três Liebesträume, baseada num poema de Ferdinand Freiligrath, esta prodigiosa e comovente peça musical revela uma forma profunda e duradoura de viver o amor, na sua natureza mais pura e maravilhosa. Uma obra de uma beleza simplesmente indescritível!

Amplamente conhecida no vasto mundo da música erudita, o Liebestraum decerto já tinha chegado até mim, em ocasiões anteriores, pois tenho a certeza de já ter escutado antes a sua melodia doce, mas intensa. Confesso que, na primeira ocasião em que voltei a ouvir a peça, depois de uma longa separação, verti algumas lágrimas, o que me surpreendeu, dada a raridade do fenómeno. Mas agora que olho para trás vejo o choro como uma reacção normal do meu lado emocional à profusão de sensações que o Liebestraum nos pode proporcionar.

Não voltei a chorar, é certo, mas continuo a encarar a peça como uma música muito especial, que me traz um prazer enorme quando a escuto atentamente. Sim, esta é uma daquelas músicas marcantes de que vos falei!

Caricatura formidável de Franz Liszt, que tanto me aterrorizou em criança.

Curiosidades

  • Liebestraum significa Sonho de Amor em alemão, ilustrando na perfeição a carga emocional da música e a enorme diversidade de sensações que pode despertar nos seus ouvintes.
  • O meu primeiro contacto com Franz Liszt ocorreu através de um livro de História da Música no qual o célebre compositor romântico era descrito como um virtuoso ao teclado, sendo por isso caricaturado como um monstro de muitos braços e feições que mais faziam lembrar uma bruxa de contos de fadas: uma imagem aterradora que pode ser observada na figura do lado. Quem diria que, muitos anos mais tarde, viria a idolatrar uma das suas peças como uma das mais belas obras musicais que tive a oportunidade de escutar?

Rick Wakeman: Journey to the Centre of the Earth!

Começo com saudações cordiais aos estimados leitores deste blogue. Hoje vou divulgar uma peça musical que descobri na semana passada e tem vindo a adquirir uma importância fundamental na minha vida neste últimos dias. Emocionalmente tem muito poder e conjuga a essência resplandecente de uma das maiores obras vernianas com uma extraordinária qualidade de construção musical.

Como o título indica, trata-se da peça Journey to the Centre of the Earth, interpretada pelo magnânimo teclista inglês Rick Wakeman. O álbum, Journey to the Centre of the Earth, do qual faz parte a música a que me refiro, trata-se de um dos mais prestigiados sucessos da sua carreira a solo e data do ano de 1974.

Rick Wakeman

Richard Wakeman nasceu em Londres, no dia 18 de Maio. A sua excelente formação musical, de feição clássica, conferiu-lhe uma espectacular técnica de teclado. Wakeman revelou-se desde cedo um autêntico virtuoso do piano, ao órgão, ao clavicórdio, diferentes modelos de sintetizadores e a todo o tipo de instrumentos musicais que envolvam teclas.

Este vulto do mundo das teclas foi um dos fundadores do Rock Progressivo e do Rock Sinfónico. Pioneiro no uso de teclados electrónicos, Wakeman revolucionou a música rock para teclado e coloriu a música das últimas décadas do século XX com as suas inovações fantásticas.

Corria o ano de 1970 quando Rick Wakeman se tornou mundialmente célebre, como teclista da banda The Strawbs. Nos anos seguintes, integrou a banda Yes, mas devido às suas relações tempestuosas com os restantes membros do grupo, a sua presença na banda foi muito intermitente. Wakeman desenvolveu uma extensa carreira a solo, associando-se frequentemente a outras figuras da música rock. Elton John, Alice Cooper e Lou Reed são apenas alguns dos nomes do rock e da música alternativa com as quais Rick Wakeman trabalhou.

Considerado por muitos o teclista mais dotado do rock, Wakeman apresenta uma extensa discografia, com uma infinidade de títulos nos quais aborda os mais variados temas, com especial incidência nos mitos e lendas britânicas, episódios da História de Inglaterra e assuntos ligados à temática da astronomia, a magia do cosmos.

Rick Wakeman em plena actividade musical: a transcendência da alma

Actualmente, aos 60 anos, a energia serena e penetrante que imprime nas suas músicas continua a iluminar as almas humanas, com as suas participações em concertos um pouco por todo o mundo. Num futuro próximo, Rick Wakeman vai actuar no Brasil, na Virada Cultural, que se realizará em São Paulo, nos dias 15 e 16 de Maio. Será precisamente nesse evento social e artístico que Wakeman fará as delícias do público com a interpretação de Journey to the Centre of the Earth, deleitando milhares de pessoas que se deixarão comover pela força suave e poderosa da sua música fenomenal.

O alcance emocional da sua arte é tremendo, tal é a inspiração sentimental de Wakeman quando os seus dedos sagrados percutem o teclado, tornando as teclas do piano mais resplandecentes do que nunca, também elas trespassadas pela magia da sua música.

Viagem ao Centro da Terra

A música Journey to the Centre of the Earth foi criada com base na obra imortal com o mesmo título do maior escritor francês de todos os tempos, o colossal e eterno Júlio Verne. Nesta fabulosa história de ficção científica, publicada em 1864, Verne narra ao leitor a fascinante viagem do professor de geologia alemão Otto Lidenbrock e do seu querido sobrinho Axel com destino ao centro da Terra.

Numa das suas pesquisas de biblioteca, Lidenbrock descobre um manuscrito de um alquimista islandês do século XVI com uma mensagem encriptada. Axel acaba por descodificar o conteúdo da mensagem, que afinal contém surpreendentes instruções no sentido de levar a cabo uma arriscada e muito aliciante viagem ao centro do planeta azul. Contrariando os receios do sobrinho, que estava noivo, Lidenbrock não hesita e faz-se ao caminho, utilizando todos os meios de transporte necessários para chegar à Islândia, a maravilhosa ilha vulcânica onde se erguia o Monte Sneffels, que deveria permitir a descida até às entranhas da Terra.

Uma vez na Islândia, Axel e o tio procuram alguém de confiança para os auxiliar na sua difícil empresa, acabando por encontrar Hans, um jovem vigoroso, leal e dedicado que lhes servirá de guia. E assim começa a viagem mais extraordinária e imaginativa da literatura de todos os tempos!

Não vos vou contar pormenorizadamente o que acontece no interior do vulcão, nas camadas mais profundas do planeta. No entanto, posso dizer que após as galerias tortuosas da chaminé vulcânica e da câmara magmática do Sneffels, os intrépidos viajantes descobrem algo que não esperavam certamente. Convenhamos que florestas de cogumelos gigantes, oceanos subterrâneos, monstros marinhos e dinossauros colossais não estavam nem podiam estar nas expectativas dos três aventureiros.

E assim, durante várias semanas, dois destemidos alemães e um bravo islandês socorrem-se de todos os meios que se encontram à sua disposição e sacrificam tudo aquilo que a sua natureza humana lhes providencia para tentarem aquilo que hoje sabemos ser impossível. Terão conseguido? Terão perecido nas entranhas da tão esfera terrestre? A resposta está num emocionante e viciante livro que todos os seres humanos deviam ler.

Júlio Verne e a sua maravilhosa obra: Viagem ao Centro da Terra

Uma reflexão sobre as capacidades do ser humano na luta pelos fins em que acredita. Um desafio às concepções dogmáticas da ciência da época. Uma soberba história de acção e aventura em que não falta absolutamente nada, nem mesmo um belo romance a coroar uma obra sublime a todos os níveis.

Pessoalmente, já li o livro há longos 5 anos, mas tenciono voltar a pegar nele num futuro mais ou menos próximo.

Journey to the Centre of the Earth

Nesta música, Rick Wakeman retrata a pavorosa viagem das personagens vernianas (e do próprio escritor, em boa verdade) ao centro da Terra de uma forma simplesmente esplêndida, conseguindo reproduzir na perfeição a magia profunda e inspiradora que só encontramos na grandiosa obra de Júlio Verne. Enquanto ouvimos as suaves e penetrantes melodias expressivamente libertadas por Rick Wakeman nos teclados dos vários sintetizadores, somos invadidos por uma estranha sensação de vivacidade, num misticismo surpreendente. Levados pela fantasia do som, somos transportados para a gloriosa epopeia representada pela Viagem ao Centro da Terra.

Começamos por escutar a bela e sonante letra da canção, simples, engraçada e profunda, exemplarmente interpretada pelo vocalista, que retrata a parte inicial da aventura dos corajosos viajantes. Depois, a música prossegue com um longo segmento sem voz, iluminado pela arrebatadora técnica de Wakeman, que se prolonga praticamente até ao fim da música, no momento em que se ouve um sonante Journey to the Centre of the Earth, soltado pelo vocalista.

Com motivos musicais espectaculares, uma melodia de base extremamente forte e apropriada ao assunto em questão e uma energia e vivacidade fora do vulgar fazem da prestação de Rick Wakeman nesta gravação musical ao vivo um autêntico marco da sua carreira e um ícone da expressividade musical. Apreciem a fantasia musical brilhantemente presente neste momento tão profundo:

Nota: Tomei conhecimento do músico e da espectacular obra de arte no blogue dedicado a Júlio Verne em língua portuguesa. Podem ver o post original aqui.

Emily Bear: uma alegria prodigiosa ao piano

Os primeiros parágrafos do post anterior foram escritos ao sabor da resplandecente 7ª Sinfonia de Beethoven. Mas não é sobre este magnífico vulto da História da Música que  vos venho falar hoje.

Acontece que um dos vídeos que me foram sugeridos pelo youtube depois do fim da sinfonia apresentava um título peculiar: The Next Mozart? Intrigado, cliquei no link e assisti, boquiaberto, a uma maravilhosa reportagem sobre Emily Bear, uma menina norte-americana de 6 anos com uma extraordinária vocação elevada para a música, e em particular para o piano. Simplesmente extraordinário!

Breve Apresentação

Emily vive numa família de músicos, mas razões das suas qualidades musicais são muito mais profundas e inexplicáveis do que isso. As suas aptidões para a arte do som são realmente fenomenais e merecem a nossa atenção!

Capaz de interpretar inúmeros compositores da música clássica, grande apreciadora de Mozart, exímia nos ritmos sincopados do jazz, Emily também compõe belíssimas melodias, que florescem na sua mente genial com uma simplicidade e uma pureza formidáveis! Mas o mais impressionante é o espírito de alegria e boa disposição contagiante da menina pianista, que passeia os dedinhos pequenos pelo teclado com uma leveza e um prazer esplêndidos!

Emily surge sempre muito simpática e sorridente e revela uma inteligência muito elevada para a sua idade, fácil de averiguar pelas forma sábia e madura como responde às perguntas que lhe são dirigidas. E tudo isto vindo de uma criança, uma menina cheia de vida, com o melhor espírito que se pode desejar para uma criança, e que vive a sua infância com o brilho e a magia necessárias a esta fase tão importante da vida de uma pessoa.

Actualmente, Emily tem 8 anos, continua a estudar piano, a compor as suas lindas músicas e a surpreender cada vez mais pessoas por esse mundo fora.

Vejam agora a reportagem, do canal WGN, que me deixou absolutamente pasmado e deleitado com a subtileza do fenómeno:

Uma preciosidade! Se quiserem, podem ver um excerto de um programa da apresentadora norte-americana Ellen Degeneres em que Emily Bear foi convidada de honra aqui.

Dá que pensar, não é?

Dou os meu sinceros parabéns a Emily Bear e faço votos de muito sucesso no futuro!

Ludwig van Beethoven: Sonata ao Luar

Se me pedissem para identificar uma obra musical como a música da minha vida, inevitavelmente a minha resposta seria a Sonata ao Luar do inigualável mestre alemão Ludwig van Beethoven. Porquê? Pela força sobrenatural desta sublime sonata para piano que expressa uma infinidade de sentimentos e emoções de uma forma intensa e musicalmente fantástica. Não tenho palavras para descrever nem um terço do que sinto quando oiço este magnífico tesouro intemporal!

Ludwig van Beethoven: uma força descomunal

Beethoven costuma ser geralmente considerado um compositor que fez a transição do estilo clássico para o estilo romântico. Nasceu em 1770, em Bona, na Alemanha, e faleceu em Viena, na Áustria, corria o ano de 1827. Foi, portanto, contemporâneo dos grandes vultos do classicismo Haydn (1732-1809) e Mozart (1756-1791), de quem recebeu lições e ouviu alguns conselhos, tendo por outro lado pisado o solo do planeta enquanto os futuros grandes símbolos do romantismo cresciam e iniciavam as suas experiências musicais.

As obras da juventude, de feição inquestionavelmente clássica, que respeitam as concepções da segunda metade do século XIX, contrastam vivamente com as obras mais tardias, que denotam um romantismo acentuado e uma maior libertação dos modelos clássicos para dar maior expressão às deambulações do compositor pelos labirintos da sua alma. Há quem diga que Beethoven era um compositor nitidamente clássico, devendo-se o romantismo de parte da sua obra à sua personalidade peculiarmente tumultuosa e às sinuosidades do seu complexo percurso de vida.

Ludwig van Beethoven: uma personagem enigmática

Homem severo e rígido, compositor perfeccionista e muito trabalhador, Beethoven sofreu inúmeros tormentos ao longo dos seus 56 anos de existência, numa sequência infindável de reveses sucessivos. O ódio que nutria pelo pai, as invasões francesas, a desilusão em relação a Napoleão Bonaparte, as frustrações românticas, o insucesso na educação do seu filho adoptivo, a constante incompreensão do seu talento, a falta de meios financeiros, a miséria em que viveu os seus últimos anos, foram algumas das provações que a vida lhe proporcionou.

Já para não falar na sua surdez, que se começou a manifestar por volta dos 30 anos e se agravou ao longo do tempo até ocorrer a perda total da audição! Qualquer outro teria abandonado a composição musical, procurando outros recursos de subsistência. Mas Beethoven não cessou de compor, dando continuidade ao trabalho ao qual dedicava a sua vida. E a verdade é que uma boa parte das suas obras mais célebres dizem respeito a este período! Formidável, não é? Um homem que não ouve produzir melodias tão belas, que nenhum mortal capaz de descodificar ondas sonoras seria capaz de criar!

Os dois últimos parágrafos ilustram bem a natureza insubmissa e revoltada de Beethoven, um génio fenomenal que foi derrotado em todas as suas batalhas contra os modelos retrógrados e preconceituosos da sociedade, mas triunfou largamente na luta pela via musical, rompendo com os moldes tradicionais e desvendando novos caminhos na longa história da música ocidental.

Além da riqueza das suas obras a nível da construção musical, a sua força emocional é simplesmente impressionante! Beethoven, um herói que só será esquecido no dia da extinção da humanidade.

Moonlight Sonata – a expansão de uma alma genial

Escrita em 1801, a Sonata ao Luar de Beethoven foi a sonata para piano nº 14 do compositor e está catalogada como opus 27, número 2. Beethoven atribuiu-lhe o nome italiano quasi una fantasia porque a peça não segue a estrutura convencional das sonatas da época e dedicou a obra à sua aluna Giulietta Giucciardi, por quem estaria apaixonado.

Só mais tarde, em 1832, já depois da sua morte, o crítico musical alemão Ludwif Rellstab comparou os sentimentos despertados pelo primeiro andamento da sonata às sensações experienciadas durante o nascer do astro lunar no Lago Lucerna, na Suíça. Como resultado, esta linda sonata de Beethoven passou a ser conhecida como a Sonata ao Luar.

Dividida em três andamentos, assume destaque pelo primeiro e o terceiro. Na verdade, estas duas pérolas musicais são duas das mais famosas peças  de Beethoven para piano e, no meu ponto de vista pessoal, as mais completas e harmoniosas.

O primeiro andamento é assustador. Uma melodia melancólica e muito profunda invade o ouvinte, que é conduzido numa viagem comovente às profundezas do seu espírito. A sonoridade pesada do modo menor e a languidez com que o pianista percute cada tecla do instrumento permitem a expressão de uma tristeza sem fim que o compositor decerto sentia e transmite na perfeição aos seus ouvintes. Apesar do ambiente dramático e obscuro que domina a música e da constante repetição do mesmo motivo, Beethoven consegue evitar que o andamento caia numa certa monotonia, introduzindo sempre novas alterações que lhe conferem um carácter mágico e poético, proporcionando ao ouvinte uma experiência metafísica e espiritual única na vida.

Escutem… Deixem-se levar pela pureza da melodia… pela doçura das frases… pelo misticismo da música… Podem até fechar os olhos…

Numa palavra: sublime!

Agora repousem… Descansem um pouco. Regressem à realidade virtual deste post.

O segundo andamento tem geralmente menos projecção, não por falta de qualidade musical e emocional, mas por ter menos impacto nos ouvintes do que os outros dois, que são absolutamente colossais! Este segundo movimento consiste num minueto, um Alegretto, de melodia alegre e simples, mas com uma abundante riqueza rítmica. Não vou colocar aqui no blogue nenhum vídeo referente a este segundo andamento, para dar maior destaque aos outros dois, mas poderão ouvi-lo aqui.

Quanto ao terceiro andamento, um Presto agitato, é realmente fabuloso! Espectacular a fúria que Beethoven consegue imprimir neste movimento tão expressivo, de uma ferocidade atroz, extremamente rápido e de uma dificuldade técnica muito elevada para o pianista.

A música apresenta uma complexidade tremenda em termos de construção, muito embora os moldes aplicados sejam praticamente os mesmos ao longo do movimento. Mas não vale a pena falar muito desse aspecto. O mais importante é a energia, o poder, a agressividade, a força desta música tão intensa na qual Beethoven liberta os seus sentimentos em relação ao mundo e à vida de uma forma tão harmoniosa e bela. A brutalidade dos arpejos e a rapidez das variações de dinâmicas, aliadas ao carácter poético de alguns momentos, tornam este terceiro andamento uma jóia intemporal da música e uma representação sobrenatural da raiva, da cólera, do ódio… de alguém que, afinal, era apenas incompreendido.

Desfrutem da beleza da música… Wilhelm Kempff, o pianista, é também um mestre na maneira brilhante como traz até aos nossos ouvidos a ideia original de Beethoven, tocando com muita personalidade, numa interpretação pessoal muito do meu agrado.

Indescritível… Grande Beethoven! Uma música divinal!

Espero que tenham conhecido um pouco da vida e obra e Beethoven e se sintam enriquecidos após a audição desta soberba sonata para piano. Julgo que esta experiência é indispensável para quem gosta de música e tem o poder de nos levar a reflectir em diversas questões humanas interessantes.

Beethoven sempre.