11 dias decorridos sobre a triunfal conquista da Liga Europeia de Futebol de Praia 2010, a minha insuperável alegria de adepto fervoroso da selecção nacional ainda não se esgotou e continua a fazer sorrir a minha alma feliz.
Será fácil compreender que, mais de uma semana depois do feito heróico dos guerreiros das areias lusitanas, o sentimento vitorioso que dominou o meu estado de espírito tenha sido de alguma maneira atenuada pelo tempo. De facto, é esta a infeliz razão pela qual não conseguirei traduzir da forma mais adequada o entusiasmo e o deslumbramento com que vivi estes belíssimos momentos do futebol de praia nacional.
No entanto, esta fantástica experiência emocional permanece bem viva na minha mente e será com um enorme prazer que sempre recordarei cada instante daquele dia estóico. Memórias que nunca se apagarão, podem crer.
Uma coisa é certa: Portugal venceu a Liga Europeia de Futebol de Praia 2010 e sagrou-se campeão europeu da modalidade desportiva mais espectacular do planeta! Parabéns a todos, pessoal! Foram extraordinários!
Liga Europeia de Futebol de Praia 2010: Superfinal em Lisboa
Para quem não se encontra dentro do assunto, direi rapidamente que a Liga Europeia de Futebol de Praia consiste na numa competição anual, que compreende uma fase regular (composta por várias etapas) e uma Superfinal, sendo todos estes torneios disputados ao longo dos meses de Verão, em diferentes locais do continente europeu. Sendo considerada a competição mais importante do futebol de praia europeu, todas as grandes selecções ambicionam a sua conquista, numa série de combates épicos cujo vencedor final sai de sobremaneira glorificado.
Em 2010, após uma fase regular muito dinâmica com 4 etapas disputadas em Moscovo, Marselha, Lignano Sabbiadoro e Haia, a Superfinal foi disputada em Lisboa, entre os dias 26 e 29 de Agosto, sendo o palco escolhido para o evento a arena montada no Terreiro das Missas, mesmo em frente ao Palácio de Belém. Seguindo este link, poderão encontrar informação detalhada acerca do evento, incluindo as equipas participantes e o formato da competição.
Portugal em Grande no Grupo A da Superfinal
Ora, na grande Superfinal da Liga Europeia, a selecção nacional de futebol de praia, jogando diante dos seus adeptos, não tinha outro pensamento em mente que não a vitória no torneio e a conquista do título de campeão europeu! Foi com esta disposição que os jogadores portugueses entraram em campo, demonstrando uma energia e uma vontade sem precedentes. Portugal apresentou uma mistura inteligente de concentração, paciência e criatividade, praticando um futebol de praia elegante e eficaz, dedicando também particular atenção ao aspecto defensivo.
Foi graças a esta postura de campeões (porque foi essa a postura ostentada pelos nossos atletas) que Portugal passou no primeiro teste com distinção, superando com classe os seus dois primeiros adversários, passo a citar, a imprevisibilidade dos surpreendentes romenos e a frieza física tipicamente russa. Para ser mais específico, direi que a selecção portuguesa goleou a Roménia por 6 bolas a 1 e venceu a Rússia com 4 golos contra 2 da equipa de leste.
Assim, com dois triunfos em outros tantos jogos, Portugal alcançou o 1º lugar no grupo A da Superfinal, com 6 pontos, enquanto a Rússia, que derrotara a Roménia por 6 bolas a 4, se classificou na 2ª posição com 3 pontos, deixando os romenos no derradeiro posto do grupo sem terem pontuado. A vitória no grupo dava acesso directo à final, pelo que Portugal marcaria presença no tão esperado jogo do título, a ter lugar no Domingo, 29 de Agosto. Na grande final, Portugal defrontaria a Itália, vencedora do grupo B. Os resultados de todos os jogos da fase de grupos, as classificações finais dos grupos e os resumos dos três primeiros dias de competição estão disponíveis aqui.
A Final!
Uma vez eliminada a perigosa selecção russa, actual grande rival de Portugal na luta pela hegemonia europeia, Portugal tinha todas as condições para recuperar o título continental, precisando para isso de vencer apenas mais um jogo. Mas o adversário não ia ser nada fácil, pois a Itália surgia em Lisboa muito renovada, com um novo treinador que revolucionara positivamente a equipa, lançando os Azurri num colossal rumo vitorioso que só poderia ser quebrado por uma grande equipa. Portugal precisaria assim do seu melhor futebol de praia para levar de vencida uma selecção disposta a tudo para conseguir o título europeu!
Componente circunstancial 1: Belchior suspenso, Madjer lesionado
Todavia, Portugal encontrou várias adversidades neste jogo decisivo da Liga Europeia 2010. A ausência forçada de Belchior, suspenso por acumulação de cartões amarelos nos jogos anteriores, era naturalmente um contratempo ao qual o seleccionador nacional José Miguel Mateus teria de saber reagir. Além disso, Madjer, que havia sido o herói do dia anterior frente à Rússia, ainda não estava a 100%, fruto de uma lesão lombar que ainda não tinha ultrapassado completamente.
A situação agravou-se no decorrer do jogo, quando o número 7 de Portugal, ainda no 1º período, numa queda infeliz decorrente de uma das suas espectaculares acrobacias, se ressentiu da sua fustigantes lesão e teve de abandonar o campo, envolto num mar de dores que não podiam ser bom presságio. Ainda assim, graças ao bom trabalho do enfermeiro Farinha e à força de vontade inesgotável de João Vítor Saraiva, o Madjer ainda voltou a entrar em campo, mas fez menos minutos do que costuma e o seu rendimento foi mais baixo do que o habitual, apesar de ter ficado muito perto do golo por várias ocasiões.
Componente circunstancial 2: Azar com os ferros, Rasulo e Del Mestre.
Além dos problemas associados à ausência de Belchior e aos problemas físicos de Madjer, Portugal não foi bafejado pela sorte neste derradeiro jogo da temporada europeia. Por duas vezes os jogadores portugueses acertaram nos ferros da baliza transalpina: a primeira num livre directo de Jordan, cujo tiro de raiva embateu violentamente no poste, a segunda no remate desafortunado de Alan, com a bola a ressaltar na areia e a subir demasiado, tocando na barra e passando por cima da baliza italiana.
Foram de facto muitos os remates lusitanos que não conheceram as redes Azurras por puro milagre, também porque os guarda-redes adversários protagonizaram uma série de defesas impossíveis, como uma defesa de Rasulo com as pernas a um remate poderoso de Madjer e uma defesa também com os membros inferiores de Del Mestre, que no início do 3º período parou incrivelmente um fantástico pontapé de bicicleta de Jordan. Enfim, foram estas apenas algumas das situações em que o azar bateu à porta de Portugal, mas acreditem, estimados leitores, que não foram as únicas.
Superação Total: Fulgor Lusitano!
Como facilmente terão percebido, não foi nada fácil a tarefa portuguesa nesta final da Liga Europeia. A excelente qualidade evidenciada pelos adversários, os contratempos referentes a problemas com os nossos jogadores e a falta de sorte que acompanhou Portugal até ao apito final do árbitro constituíram um forte entrave ao triunfo da equipa das quinas, que teve de dar o seu melhor para alcançar a almejada vitória.
Não obstante todas adversidades anteriormente numeradas, os jogadores da selecção nacional portaram-se como verdadeiros heróis, lutando com todas as suas forças, alimentados pelo desejo de colocar o nome do seu país no lugar mais alto do pódio. Aplicando na perfeição os processos de jogo implementados pelo seu treinador, cumprindo todas as indicações do mestre tanto a atacar como a defender, Portugal protagonizou uma excelente exibição, alicerçada numa base defensiva muito sólida e na técnica fantástica dos seus jogadores, capazes de desequilibrar o encontro a qualquer momento.
O jogo: Até ao golo de Gori
Que grande jogo de futebol de praia e que grande conquista da selecção nacional! Praticamente entrou no jogo a perder (1-0) num bom lance de Corosiniti, mas conseguiu empatar (1-1) apenas alguns minutos volvidos, num portentoso remate longínquo de Alan, que veio na sequência de uma fantástica reacção por parte da equipa das quinas! E foi com muita garra, muita dedicação, que procurou o golo até ao fim do 1º período, ainda que sem sucesso. Mas o 2º período também começou com Portugal no ataque e, após uma sucessão de oportunidades por concretizar, Bruno Novo apontou o seu primeiro golo da tarde, num remate acrobático de belo efeito, após passe de Paulo Graça. Um grande golo que deu a vantagem (2-1) mais que merecida àquela que estava a provar ser a melhor equipa.
O 2º período continuou a ser totalmente controlado por Portugal, que tentou ampliar a vantagem, ainda que sem êxito. Ora, na derradeira etapa do encontro, a selecção nacional entrou a todo o gás, em busca do golo da tranquilidade, remetendo os jogadores italianos para o seu meio-campo e reafirmando a determinação lusitana em vencer a partida. Contudo, o terceiro tento português não se verificou e foi mesmo a Itália quem, numa das muito raras situações de perigo para a baliza de Paulo Graça, chegou ao golo: o estreante Gori empatou a partida (2-2) num espectacular pontapé de bicicleta, que consternou o Terreiro das Missas, numa onda de apreensão que gelou os adeptos…
O jogo: Os melhores vencem no final numa explosão de emoções.
Faltavam nessa altura cerca de 5 minutos para o fim do encontro. A final empatada, entre dois titãs do futebol de praia europeu. Um estádio inteiro sustendo a respiração, aguardando um desfecho emocionante para um jogo que seria, com toda a certeza, épico. Estaria a Itália em vantagem psicológica, atendendo ao contexto em que o tento de Gori surgiu? Talvez, mas Portugal continuou a fazer o seu jogo, com serenidade e confiança, sem nunca se desorientar e mantendo sempre o rumo correcto. A consistência táctica de Portugal não foi nada afectada, o que permitiu conter de forma impecável o ímpeto italiano, que não causou estragos na defensiva lusitana. Vigiada a situação a nível defensivo, era urgente repor a vantagem no marcador, algo que requereria um acto de bravura, um momento de inspiração apenas possível para um grande jogador! E, desta vez, esse grande jogador não foi Madjer, nem Alan, nem Belchior, mas sim o grande Bruno Novo!
Uma corrida desconcertante do número 18 de Portugal por entre os defesas italianos colocou o nosso jogador em excelente posição para receber o lançamento de Paulo Graça, que funcionou como um passe soberbo para o remate violentíssimo do Bruno Novo, na direcção das baliza transalpina. Apesar da pontaria e da potência do pontapé, o implacável Del Mestre ainda conseguiu conter esta tentativa do herói da Nazaré, mas nada pode fazer contra a recarga vitoriosa do atleta lusitano: recepção sublime com o joelho direito e tiro certeiro com o pé esquerdo, com a bola a passar rente ao poste sem grandes hipóteses para o pobre guarda-redes Azurri.
Era a loucura no estádio de Belém! O público de pé, a gritar e a aplaudir a nossa selecção! Ambiente ao rubro nas bancadas, com os espectadores em êxtase graças à vantagem de Portugal! Os atletas a festejar, de forma efusiva, o brilhantismo do Bruno Novo, em particular o próprio, que esboçou uma série de gestos triunfais enquanto berrava, celebrando o 3-2, apenas antes de ser abalroado pelo Bilro, também ele em delírio!
E foi com num clima de grande tensão que assistimos (pois eu estava lá) aos 3 últimos minutos do jogo, em que o espírito de entreajuda e a solidez defensiva demonstrados pela nossa selecção conseguiram assegurar a inviolabilidade das redes lusitanas! Paulo Graça impecável, defendendo um livre perigoso de Carotenuto, a menos de 1 minuto do fim, foi juntamente com Bilro, Marinho e Coimbra o herói dessa fase do jogo, na qual o resultado não sofreria alterações. O apito final acabou por soar, 36 minutos decorridos desde o início deste jogo memorável, que consagrou Portugal campeão europeu de futebol de praia 2010!
Este vídeo diz respeito aos derradeiros instantes do jogo, a partir da defesa de Paulo Graça ao livre de Carotenuto, incluindo o princípio da festa. Agradeço ao adepto (desconhecido) que filmou o vídeo, proporcionando um enriquecimento deste post no meu blogue!
A Festa depois do jogo: Absolutamente descomunal!
É verdade que chorei. Sim, chorei, e não me envergonho disso, antes pelo contrário: acho que expressei verdadeiramente os meus mais profundos sentimentos naquele momento e fico feliz por pensar que vivi esta experiência extraordinária em toda a sua dimensão. Não numa perspectiva de fanatismo (o que pode ser facilmente refutado se tivermos em conta os autógrafos que pedi a jogadores de outras selecções no decorrer do evento), mas de uma forma saudável que me permitiu desfrutar ao máximo deste triunfo histórico e desta alegria imensa que foi assistir ao vivo pela primeira vez a uma grande conquista da selecção nacional.
Mas, embora os meus rituais sejam raros entre os restantes membros da plateia, ninguém foi indiferente ao grande feito que o futebol de praia português acabava de alcançar, algo que foi bem visível na forma como o público participou na festa e aplaudiu com entusiasmo os grandes heróis das areias lusitanas! Sim, todo o estádio vibrou em uníssono com a magia da selecção nacional, cuja bravura e dedicação às cores nacionais lhe proporcionou um brilhante título europeu! E foi decerto um dia especial na carreira dos atletas, assim acarinhados pelo apoio do público da capital!
O momento em que o troféu foi entregue à selecção nacional foi inesquecível e marcou mais um passo na História do futebol de praia nacional e europeu. Somos novamente Campeões da Europa! Parabéns a todos, amigos!
Madjer, Melhor Jogador do Torneio (outra vez)
A distinção do Madjer como melhor jogador do torneio foi um prémio justo pela forma corajosa como o lendário craque português entrou em campo, numa luta dupla contra os seus adversários e uma lesão fustigante que o atormentou durante toda a competição. O Madjer fez tudo o que podia, pondo em risco a sua própria integridade física para servir o país ao qual tanto tem dado, acabando por se revelar determinante para a conquista do troféu, dada a imprescindibilidade do seu hat trick frente à Rússia para que Portugal marcasse presença na final.
A imagem aguerrida do capitão luso, que mesmo a precisar de uma cama ficou diversas vezes perto do golo diante da Itália, faz dele uma figura incontornável da modalidade na Europa e o jogador que, sem dúvida alguma (e sem querer tirar mérito ao Stankovic) mais merecia esta distinção (foi considerado melhor jogador da Liga Europeia pela 5ª vez). Enquanto o Madjer recebia o distintivo das mãos do doutor João Morais, com a mão atrás das costas de maneira a aliviar as dores, o público delirava com a atribuição do prémio individual mais honroso ao grande craque português.
Gostaria também de dizer, rapidamente, num parênteses rápido, que havia outros jogadores na selecção nacional com credenciais para conquistar o prémio de melhor jogador, nomeadamente o Alan, elemento fundamental na conquista do troféu, determinante na construção do jogo de Portugal e detentor de uma técnica extraordinária, e o Bruno Novo, que afinal acabou por ser o herói da final, bem como o melhor marcador da selecção portuguesa, com 4 golos apontados, contrariando a ideia daqueles pobres ignorantes “treinadores de bancada” para os quais a selecção é só Madjer, Alan e Belchior.
De resto, na minha opinião, gostaria de manifestar a minha convicção de que o Paulo Graça, guarda-redes da selecção nacional, merecia mais do que qualquer outro jogador ter sido eleito melhor guarda-redes da competição, atendendo ao baixíssimo número de golos sofridos (5), às suas defesas espectaculares (e extremamente influentes) e à sua preponderância na organização do jogo ofensivo da nossa selecção. A imprensa preferiu atribuir o prémio ao Andrey Bukhlitskiy, da Rússia, que apesar de não ter sido, na minha opinião, o melhor do torneio, é também um grande guarda-redes, ficando o prémio bem entregue. Para finalizar a listagem dos prémios, resta-me dizer que o já referido Dejan Stankovic se sagrou melhor marcador do torneio, graças aos seus 8 tentos na Superfinal ao serviço da Suíça.
Agradecimentos
Antes de prosseguir com os agradecimentos a quem contribuiu para este grandioso espectáculo desportivo, social e emocional, gostaria de aconselhar a leitura deste artigo, escrito pelo guarda-redes da selecção nacional João Carlos Delgado, no qual faz um excelente resumo do jogo e da alegria imensa que este grupo maravilhoso viveu ao sabor desta conquista brilhante, expressando também a sua gratidão para com todos os membros da família do futebol de praia nacional. Mais um grande exemplo do espírito de união e amizade que reina na melhor selecção da Europa!
Não posso terminar este post sem agradecer a todos os familiares e amigos que me acompanharam ao longo dos 4 dias de competição, tornando estes momentos ainda mais coloridos e felizes para mim, sobretudo o dia da grande final. Um muito obrigado a todos, porque foram espectaculares no apoio a Portugal neste dia memorável! Adorei a vossa companhia e espero que tenham desfrutado da experiência, tanto do futebol de praia como do espectacular ambiente que vivemos nas bancadas!
E claro, quero deixar aqui as minhas sinceras palavras de agradecimento e admiração por quem, graças ao seu trabalho e esforço pessoal, conseguiu recuperar este título europeu, que nos fugia caprichosamente desde 2008. Um muito obrigado a toda a família da selecção nacional por terem tornado possível esta espectáculo tão belo, que nunca esquecerei, e por me terem sempre recebido com boa disposição e amabilidade ao longo desta temporada de 2010. Foram todos espectaculares e estão de parabéns! Orgulho em ser Português!