Testes Intermédios: Desilusão? Não! Aprendizagem e Evolução!

Ultimamente, tenho andado visivelmente atarefado. Motivo? Testes intermédios, meus caros amigos. Infelizmente para mim, a suspensão da minha redacção no blogue não foi tão benéfica como eu gostaria, dado que as notas obtidas nas provas não foram ou não se adivinham tão altas como eu gostaria. São boas notas, e não me impedem de vir alcançar os meus objectivos escolares. Em todo o caso, acho que poderiam ter sido mais altas, sobretudo pela forma como eu perdi pontos estupidamente nas duas provas realizadas: as de Física e Química A e de Matemática A. Mas comecemos pelo princípio.

Testes Intermédios: A Causa dos meus Celeumas Interiores

Na sequência da preparação para os exames nacionais das disciplinas específicas, tenho vindo a realizar diversas provas elaboradas pela equipa do Ministério da Educação, que constituem os chamados testes intermédios. Como alunos do 11º ano de escolaridade, temos exames de Física e Química A e de Biologia e Geologia no final deste ano lectivo, além dos exames de Português e Matemática no fim do 12º ano. Assim, ao longo dos 2º e 3º períodos, os testes intermédios do GAVE têm povoado o nosso calendário escolar, substituindo alguns testes das respectivas disciplinas e intervindo nas contas para a avaliação dos alunos.

Ora acontece que o intermédio de Física e Química estava marcado para o dia 30 de Abril, enquanto a prova de Matemática fora agendada para 6 de Maio. Deste modo, o calendário de testes ia abrir com dois importantes momentos de avaliação, com a importante função de nos preparar para a realidade dos exames. Quais eram os meus objectivos? Ter as notas mais altas possíveis, para subir as notas de 19 que trazia do período anterior em ambas as disciplinas para dois 20s mais honrosos e estáveis. Até aqui tudo bem.

Não tive grandes problemas na preparação para os dois testes intermédios. Revendo a matéria na teoria ou exercitando os conhecimentos na prática (incluindo a realização de testes intermédios de anos anteriores), atingi um patamar que me conferia alguma segurança para as provas, possibilitando as almejadas notas caso estivesse concentrado. E as provas, tanto uma como a outra, correram bem. O pior foi depois, quando comecei a ver que tinha errado qualquer coisa nos dois teste intermédios. Apesar das semelhanças entre os dois casos, seria conveniente distinguir as situações.

Física e Química A: Problemas com a Calculadora?

Falando mais aprofundadamente do teste intermédio de Física e Química, o único problema antes da realização do teste parecia ser a falta de calculadora gráfica (tinha uma, mas não estava a funcionar). Na aula anterior à prova, vários colegas (daqueles que tinham anulado a matrícula) se tinham oferecido para me emprestar a sua calculadora.

Ficara combinado que, caso a minha calculadora não estivesse a funcionar, o Luís emprestar-me-ia a sua máquina. No entanto, a anomalia da minha calculadora era simples: não passava de uma questão de pilhas gastas. E assim, uma vez solucionado o problema, a HP 9 g estava novamente operacional e em condições de me conceder os 8 preciosos pontos da regressão linear (que podia vir a sair, como efectivamente aconteceu). Como aluno aplicado, desejando evitar surpresas desagradáveis durante a realização da prova, decidi testar aquela funcionalidade da máquina, usando os dados de um exercício do livro, com 10 valores para x e y. O resultado da experiência foi positivo. «Estou pronto para o teste.» pensei eu. E estava. Mas na hora H, as coisas não correram tão bem como estava previsto…

Física e Química A: A Prova

Eis a deslumbrante hp 9g: a calculadora mas famosa da minha turma! (ou pelo menos a que mais tem dado que falar, dadas as suas singularidades muito peculiares)

Eis a deslumbrante hp 9g: a calculadora mas famosa da minha turma! (ou pelo menos a que mais tem dado que falar, dadas as suas singularidades muito peculiares)

30 de Maio. Dia do teste intermédio. 90 minutos para resolver o teste e tentar chegar ao 20. O teste não era propriamente difícil, a maior parte das questões eram bastante óbvias e não havia assim nenhum exercício que fizesse pensar mais um bocadinho. Ainda assim, acho que 4 questões de desenvolvimento com texto (e não por cálculos) foi claramente excessivo, porque envolvem sempre muitos pontos que precisam de ser focados, acabando por ter reflexos em termos de tempo (pelo menos para mim, que sou um bocado perfeccionista nestas coisas).

Por ter demorado demasiado tempo nas justificações textuais, acabei por resolver os dois últimos exercícios de cálculo sob pressão, cometendo alguns erros por distracção, que foram prontamente corrigidos, acabando por não ter qualquer influência na minha nota. Anteriormente, tinha resolvido a questão 3.3 (envolvia uma regressão linear), seguindo os passos correctos, com a minha super calculadora hp, sem qualquer hesitação, confiante da verdade do meu resultado. E assim, foi satisfeito que deixei a sala do teste, sem certezas, mas com algumas esperanças de poder chegar ao 20 (ou pelo menos com um arredondamento, em caso de erro de cálculo).

Física e Química A: Errei a Regressão Linear!!!??? Mas Porquê!!!???

Todavia, se havia algum exercício que eu nunca esperaria errar era o cálculo da regressão linear, que eu fizera atentamente, com todo o cuidado, para grande alegria do meu espírito científico. Compreende-se, portanto, qual o meu espanto, quando na aula de 3ª feira (4 de Maio), a primeira após o teste intermédio, o professor me disse que tinha voltado a errar a regressão linear! Asseverei que tinha utilizado a calculadora correctamente, que tinha conseguido fazer uma regressão linear, e que tinha obtido um valor do declive da recta através da máquina! Não teria trocado os valores de x com os de y? Não! Não teria trocado o declive com a ordenada na origem? Também não!

A fim de descobrir a causa do meu erro, voltei a realizar o cálculo da regressão linear, verificando os valores, gravados na memória da calculadora, que tinham sido introduzidos por mim no dia do teste. Estavam todos certos, mas o resultado continuava a estar incorrecto! E foi então que eu descobri! Tornando a fiscalizar a situação, apercebi-me de que os dados que eu tinha usado na véspera do teste ainda continuavam guardados, conservados em latência na memória da calculadora, tendo interferido com os valores do exercício do teste intermédio, originando uma regressão linear referente a dois conjuntos de dados totalmente diferentes! Estava explicado o meu resultado tão exótico, justificando as 8 décimas de desconto das quais já não poderia fugir. Boing!

Passei o resto da aula de Física e Química atormentado pela ideia de que perdera pontos estupidamente, num acesso de irresponsabilidade que, certamente, me iria privar da nota máxima no teste intermédio, mas, pior do que isso, poderia eventualmente custar o 20 no final do ano. Como se não bastasse, na aula de 5ª feira, o professor abalou ainda mais a minha consciência preocupada, fazendo referência a um erro ou outro na minha parte de Química. O quê! Não queria acreditar! Mais uma contrariedade para desgraçar os meus objectivos? O professor disse que talvez estivesse a fazer confusão, pois não se recordava bem das provas, e acabou por me aconselhar com simpatia que não me preocupasse. Ainda assim, a ideia de ter menos de 19,2 não deixou de importunar a minha mente de ideias fixas.

Física e Química A: Mais Erros? Sustos. Balanço. Projecção.

No dia seguinte (posso dizer hoje), na escola, a primeira aula do dia era nada mais nada menos do que Física e Química! O sumário, muito simples, dividia-se em duas partes distintas: a resolução de exercícios sobre a matéria leccionada na aula anterior e a entrega dos testes intermédios, acompanhada de breves comentários e conselhos do professor às nossas notas. Quando recebi o meu teste fiquei aliviado! UFA! 19,2! Quando já receava uma nota mais longínqua das minhas ambições, devido aos supostos erros na parte da Química, aquele resultado foi a melhor notícia que eu poderia ter recebido! Isto, claro, tendo em conta que a razão pela qual não fiz o pleno foi um azar na utilização da calculadora, exclusivamente da minha responsabilidade, é certo, mas que causa sempre alguma frustração, não obstante o meu monopólio da culpa.

Em suma, este teste intermédio representou mais uma oportunidade desperdiçada para eu ter 20 valores exactos numa prova da disciplina e leva a que seja preciso eu regressar a um registo mais elevado na prova seguinte para alcançar a almejada classificação icosaédrica no final do ano.

O professor já nos disse, em contornos gerais, qual vai ser a matéria para o próximo teste, que, em princípio, terá lugar dia 4 de Junho. Até lá, vou aprofundar a revisão das matérias anteriores e estudar devidamente a última unidade, para conseguir um conhecimento adequado da matéria, que permita atingir essa nota. No dia anterior ao teste, deitar-me-ei mais cedo do que é habitual, para estar de cabeça fresca na manhã seguinte, e farei o teste com muita concentração, para não dar erros estúpidos em cálculos elementares e coisas afins. Estou confiante. E tem de ser mesmo assim.

Matemática A: Preparação e Teste

Em relação à Matemática, pouco (!) tenho a dizer. Como preparação, revi as noções de teoria mais importantes acerca das funções, utilizando também alguns exercícios, e resolvi testes intermédios de anos anteriores, além de fichas de escolha múltipla (recursos atenciosamente facultados pela professora a toda a turma). Os exercícios que requeriam o uso da calculadora gráfica foram um ponto importante do meu estudo. Ainda tive tempo para ajudar alguns colegas a estudar e esclarecer um ou outra dúvida de algum, o que considero ser importante, pois os bons amigos merecem sempre a nossa ajuda, enquanto nos for humanamente possível prestar esse auxílio.

Parti confiante para o teste. Fiquei sentado do lado da janela, iluminado pela luz solar, munido de todo o material necessários à realização da prova. Correu tudo muito bem, não senti problemas durante a realização dos exercícios (que eram, regra geral, fáceis), e deixei a sala seguro de mim mesmo e das minhas respostas. Contudo, no decorrer do dia de ontem, uma ligeira suspeita atormentava a minha mente conturbada. Uma pequena nuance tinha ficado em suspenso desde a realização da prova…

Matemática A: Derivadas – Complicar o que é fácil

Na alínea 4.2, que envolvia o cálculo de uma derivada, muito fácil, por sinal, eu compliquei o exercício, utilizando a minha capacidade natural de complicar o que é simples por natureza. Embora soubesse perfeitamente que a derivada de uma função f+g é igual à soma da derivada de f com a derivada de g, no momento, pensei que poderia existir naquele exercício uma armadilha (não me perguntem porquê, foi um impulso de idiotice inexplicável, daqueles que por vezes me sucedem nas perguntas mais fáceis dos testes) e escrevi a expressão numa forma muito mais complexa, o que dificultou o cálculo da derivada (estendia-se para além dos limites do programa), que eu acabaria por errar!

Durante a prova, embora duvidasse um pouco da validade do meu processo, achei que estaria correcto, caindo numa cegueira que se prolongaria durante cerca de 24 horas. Porém, a escuridão algébrica só durou até à aula de Matemática de hoje, quando as minhas dúvidas se intensificaram, levando a que, inevitavelmente, pegasse no enunciado do teste e verificasse a minha resolução do exercício em questão. Receando seriamente ter cometido um erro (como alguns minutos mais tarde viria a perceber), resolvi o exercício de outro modo, mais complexo, mas que me levaria a um resultado inequivocamente correcto (usei os limites para determinar as derivadas). E, gradualmente, fui começando a ver que tinha metido água…

No final da aula, quando todos os meus colegas tinham abandonado a sala, interpelei a professora acerca dos critérios de correcção para aquela pergunta. Segundo as informações do GAVE, o cálculo da derivada vale 8 pontos, mas basta manifestar intenção de determinar o a derivada para conquistar 2 décimas. Por outras palavras, teria 6 décimas de desconto no exercício, sendo que a melhor nota possível passava a ser de 19,4 valores. Não era nada mau, convenhamos. Despedi-me da professora, agradecendo, e assim terminou uma semana dominada pela azáfama dos testes intermédios.

Matemática A – Expectativas e Projectos

Bem, tenho esperanças de não ter cometido mais nenhum erro no teste intermédio de Matemática. Penso que tal é possível, tendo em conta que aquela era a única pergunta do teste em que eu estava um pouco relutante. Um 19,4 seria uma excelente nota, mesmo ali na fronteira do 19, a espreitar o 20, mesmo sem chegar ao meu objectivo. Vou aguardar pacientemente, ciente dos factos, mas acreditando nesta nota como a verdadeira.

De resto, a situação é idêntica à da disciplina de Física e Química: preciso de tirar um 20 no próximo teste, custe o que custar! Sim, é preciso! E, acima de tudo, é possível! Tenho de manter os conhecimentos que já tenho sobre a matéria anterior, com a rectificação das derivadas, para não voltar a cometer o mesmo erro. Além disso, a derradeira unidade do programa, referente a sucessões, também terá de ser cuidadosamente estudada, para não perder pontos com essa matéria. Segredos para o sucesso: deitar cedo para ter um número de horas de descanso suficientes para manter a lucidez em níveis bem elevados e fazer tudo com atenção redobrada, para não me enganar na passagem de valores do enunciado para a folha de teste nem nos cálculos mais simples (geralmente, são aí os meus erros em Matemática).

Conclusão: Erguer o semblante

E pronto! Aqui estou eu, pronto para o que der e vier! A margem de erro nas duas disciplinas já terminou e tenho de me mentalizar de que tenho de melhorar, porque posso subir e quero alcançar o progresso!

Peço desculpa aos leitores pelo egocentrismo assumido deste post, mas tentem perceber que eu estava mesmo a precisar de escrever sobre estes assuntos para arrumar as ideias e moralizar a minha mente, que ficou um pouco atordoada por estas pequenas frustrações. Por favor, não vejam o post como um momento de exibicionismo, pois fui sincero em tudo o que escrevi, nunca tendo como objectivo publicitar a minha imagem ou qualquer coisa do género. Os meus desejos e ambições, por mais altos que sejam, não significam que eu não seja humilde e tenha uma postura sensata de encarar os estudos e a vida em geral.

A água é azul: crianças e cientistas são menos afectados por daltonismo

Envolto na alternância entre o diletantismo e a veia laboral do fim-de-semana, alguns instantes antes do almoço, decidi iniciar a realização dos trabalhos de casa da disciplina de FQ A. Pegando no manual de Química e lançando a minha mente na leitura do texto que o professor seleccionara, estava a começar a ganhar interesse pelo tema abordado, quando me deparei com uma revelação surpreendente, que muito me espantou:

Pode pensar-se que os oceanos são azuis porque a água dos oceanos reflecte o azul do céu ou porque contém impurezas coradas, tais como sais de cobre. Mas a resposta é outra! A água tem uma cor própria. A água absorve luz vermelha no extremo do espectro visível, transmitindo a cor complementar, que é o azul celeste. A água que bebemos parece incolor porque a sua cor é muito ténue e é pouca a água no copo. Quando vemos uma grande massa de água (lagos, rios ou oceanos) apercebemo-nos logo da sua cor azul.

Nota: O livro de Química a que me refiro trata-se do manual escolar 11 Q, Física e Química A, Química – Bloco 2, da Texto Editores, escrito por João Paiva, António José Ferreira, Graça Ventura, Manuel Fiolhais e Carlos Fiolhais, numa edição datada de 2009. A passagem que pode ser lida acima diz respeito ao artigo “A água e a atmosfera”, correspondendo o excerto apresentado ao segundo parágrafo do texto, que se situa na página 86 do manual.

O mar, essa inesgotável fonte de mistérios infinitos, reluzindo na beleza do seu esplendor celeste.

O mar, essa inesgotável fonte de mistérios infinitos, reluzindo na beleza harmoniosa do seu esplendor celeste. O azul dos oceanos é mesmo muito especial.

Boquiaberto com a novidade arrebatadora que acabara de receber, li o parágrafo atentamente, totalmente concentrado na mensagem poeticamente subtil, veiculada por aquelas linhas muito simples, mas simultaneamente tão profundas. Procurei saborear cada palavra do excerto em todo o seu esplendor celeste, como se da revelação do segredo do universo se tratasse. De facto, a notícia não poderia ter tido mais impacto em mim, ao abalar radicalmente as minhas concepções acerca da cor do líquido da vida. Quem diria que a água é mesmo azul…

Percurso Pessoal

Quando somos pequenos e começamos a conhecer o mundo, somos levados a colocar questões sobre tudo e todos, sem limitações, na atitude natural de quem não compreende e quer compreender, não sabe e quer saber, na ânsia de descobrir as causas de tudo o que nos rodeia. Nesse tempo, vulgarmente designado idade dos porquês, não aceitamos nada só por si, queremos realmente entender as relações entre as coisas, para podermos conhecer a origem dos fenómenos, interrogando, para isso, os vultos de autoridade à nossa volta que nos inspiram confiança. As perguntas relativas aos motivos da coloração do mar e do céu são algumas das questões mais frequentes.

A água, responsável pela cor azul do nosso planeta, é a mãe de toda a vida na Terra.

A água, responsável pela cor azul do nosso planeta, é a mãe de toda a vida na Terra.

Com base na minha experiência pessoal, que provavelmente se assemelha à de muitas outras pessoas, posso dizer que uma das dúvidas que mais confusão suscitava em mim era a razão pela qual a água do mar era azul, sendo a água dos copos e das garrafas transparente. Não fazia qualquer sentido! Inicialmente, confrontado com esta grande ambiguidade acerca da cor da água, fui levado a acreditar que a água era azul à partida, pois a ideia de azul era mais apelativa para mim, tal como a concepção do mar era mais preponderante do que a ideia de um bocadinho de água num copo. Porém, por qualquer razão, quando a quantidade de água era pequena, o raio do líquido como que perdia a cor! Era muito estranho… A água devia mesmo ser uma coisa muito especial.

No entanto, tendo em conta as respostas que iam surgindo em redor e com base na minha interpretação dos fenómenos, fui alterando a minha opinião, gradualmente, ao longo dos anos. Começava a ver a água como uma coisa realmente transparente, sem cor, cultivando a ideia de que o azul do mar se devia a qualquer razão associada ao fundo dos oceanos. À medida que ia progredindo na escola, frequentando as aulas de ciências naturais, ou talvez mesmo antes disso, fui confrontado pela primeira vez com a expressão incolor, a propósito da água, que vinha confirmar a minha ideia anterior de que a água não tinha cor própria.

De resto, o aprofundamento dos meu conhecimentos científicos nos anos seguintes e o desenvolvimento das minhas faculdades racionais ia construindo explicações cada vez mais aceitáveis para a coloração azul dos oceanos. Talvez o motivo se prendesse com as elevadas concentrações de sais da água do mar… Ah! Mas os rios e lagos também eram azuis e praticamente não tinham sal! De qualquer forma, a água doce também poderia conter outras impurezas que conferisse uma cor azulada a qualquer reserva de água do planeta… Por fim, ainda se mantinha de pé a teoria segundo a qual os solos seriam os principais responsáveis pela coloração da água, com o azul a ser proveniente de certas substâncias existentes nos fundos ou libertadas por eles…

Todas estas hipóteses, por muito racionais que sejam, afluíam à minha mente de uma forma muito mais desorganizada do que aquela a que recorri neste parágrafo. Este pragmatismo coerente nunca esteve presente nas minhas descontraídas análises do problema em questão, suscitadas por raros fluxos de inspiração metafísica, que me tomavam em momentos de contemplação marinha. Ao fitar a vastidão azul do oceano, no seu brilho descomunal e misterioso, era tomado por um sentimento de admiração profunda, mas incompreendida, sendo que a insatisfação cognitiva do meu ser me impelia a questionar as causas de tão grande beleza natural. Porém, a poesia do mar restringia a minha frieza racional, mitigando o meu poder de pensamento, lentamente absorvido pela suave brisa emanada pelo oceano.

Agora: a verdade surge, rompendo por entre a neblina

Cascatas de Água Azul, em Chiapas, no México.

Cataratas de Água Azul, em Chiapas, no México. A cor azul da água é bem evidente nesta prodigiosa maravilha natural do nosso magnífico planeta.

Agora sei a verdade. Contudo, foi preciso esperar 16 anos e 10 meses para conhecer realmente o motivo da coloração azul dos oceanos! Uma questão tão simples, com uma resposta tão bela e subtil, ao meu alcance há tanto tempo, pelo menos em contornos gerais, mas que eu só descobri hoje, por um acaso escolar fortuito. Mesmo considerando a componente mais científica da questão, não é assim tão difícil entender que a água absorve a radiação vermelha, transmitindo a radiação no extremo oposto do espectro visível, que corresponde ao azul! Tratam-se de conhecimentos básicos leccionados no 3º ciclo que todos a população devia dominar! E, mesmo assim, quantas pessoas há por esse país fora, e por esse mundo, que não conhecem a verdadeira razão da cor azul do mar? E quantas não saberão sequer que a água é, em si mesma, azul? É curioso, não é?

Na verdade, o meu percurso ao longo dos anos, no que respeita à descoberta da solução para este enigma, pode ser descrito muito facilmente. Comecei no zero, quando nasci, pois nada sabia do mundo em redor. No entanto, enquanto ia dando os primeiros passos neste planeta, fui começando a adquirir dados que me permitiram colocar questões, para as quais apenas encontrava respostas incompletas, numa fase em que conhecia a verdade, pois julgava que a água era efectivamente azul.

Posteriormente, a falta de conhecimento das causas e a interpretação incorrecta dos dados levou a minha mente a cometer erros, tirando conclusões precipitadas, pelo que a minha opinião se alterou drasticamente, afastando-se da verdade. Esta foi, indubitavelmente, a pior fase de todas, dado que eu achava ser detentor da verdade, quando nada sabia realmente, numa ignorância cega semelhante àquela que produz o preconceito. Felizmente, a atenção do meu professor de Física e Química a pormenores desta natureza não consentiu o prolongamento deste sono cognitivo e acordou a minha alma científica para a mais linda verdade natural.

Filosofia e Ciência: semelhança na diferença

Não posso deixar de fazer uma analogia entre este pequeno fragmento da história da minha vida e a tese defendida pela maioria dos filósofos, magistralmente apresentada por Jostein Gaarder na sua obra O Mundo de Sofia, que aconselho a todos os leitores. Passo a apresentar essa mesma mensagem, contemplando os vários aspectos em causa:

O filósofo e autor norueguês Jostein Gaarder e a sua mais famosa obra, O Mundo de Sofia. Aconselho vivamente a sua leitura a todas as pessoas interessadas em aprender, pois constitui uma experiência fenomenal no conhecimento da realidade humana e do universo, embarcando o leitor numa viagem alucinante pela História da Filosofia Ocidental.

O filósofo e autor norueguês Jostein Gaarder e a sua mais famosa obra, O Mundo de Sofia. Aconselho vivamente a sua leitura a todas as pessoas interessadas em aprender, pois constitui uma experiência fenomenal no conhecimento da realidade humana e do universo, embarcando o leitor numa viagem alucinante pela História da Filosofia Ocidental.

Nos primeiros anos de vida, as crianças, curiosas por natureza, questionam tudo o que lhes surge diante dos olhos, adoptando a atitude filosófica por excelência: duvidar do mundo, com uma grande abertura espiritual. Ao longo do processo de crescimento, as pessoas vão aceitando as respostas que lhes são apresentadas, conformando-se com as soluções vindas do exterior (ou do interior) sem as questionarem e testarem, perdendo as suas faculdades filosóficas. Podem, contudo, regressar aos tempos de criança, tornando a duvidar das respostas que lhes são impostas pela sociedade ou por elas próprias, adoptando uma perspectiva ponderada e crítica em relação a tudo, o que as pode conduzir a grandes progressos na procura da verdade. Quando alguém toma tal atitude, um novo filósofo nasceu!

O autor norueguês de O Mundo de Sofia consegue ilustrar esta situação na perfeição com o recurso à alegoria da pelagem do coelho. Nesta situação, a criança começa por ocupar a camada superficial do pêlo, numa posição privilegiada para a contemplação da verdade, simbolizada pela realidade exterior ao coelho. O processo de crescimento corresponde a um escorregamento do indivíduo para as camadas mais profundas da pelagem, onde permanecerá em completa escuridão, obscurecido pelas ideias preconcebidas que alimenta, longe da luz e claridade do mundo exterior. Porém, o filósofo tem a virtude de não se deixar satisfazer pelas respostas provisórias que lhe são apresentadas e inicia uma longa e difícil ascensão ao longo do pêlo do roedor, procurando a verdade universal, a pureza da luminosidade exterior!

Com a minha experiência acerca da cor azul da água sucede exactamente a mesma coisa! Comecei por estar perto da verdade, mas a falta de conhecimento das causas impeliu-me para os reinos da escuridão, até um súbito raio de luz iluminar o meu espírito originalmente curioso, mas confinado a ideias falsas, trazendo-me de volta aos domínios da claridade, e desta vez de forma definitiva, tendo em conta a existência de um elo de sabedoria. A principal diferença em relação à tese descrita reside no facto de esta minha história estar ligada a um assunto fantástico de carácter científico, enquanto a teoria descrita anteriormente se refere à filosofia em todo o seu esplendor.

Afinal, as crianças estão mais perto da verdade, ao serem levadas pela sua força espiritual interior a acreditar no que os sentidos lhes dizem, que a água é azul. E certos estão também os cientistas, que, tomados pela sede de conhecimento, investigam arduamente os vários pontos da questão, acabando por descobrir a verdade, compreendendo os motivos que explicam o fenómeno. E, assim, só as crianças e os cientistas conhecem a verdade, ao contrário das outras pessoas, que ignoram a verdadeira cor da água, quando a resposta está diante dos seus olhos. Da mesma forma, em questões do foro filosófico, são as crianças e os filósofos quem está em contacto com a verdade (ou mais perto dela).

O azul da água é uma verdade universal, que pode ser confirmada cientificamente. Uma vez esclarecidas as sempre interessantes questões da Física, deleitemos a alma com a beleza nostálgica dos azuis marinhos. Inspiremos a aragem profunda emanada pelos mares e deixemo-nos levar pela melancolia macia das águas, ao sabor das ondas celestes do implacável oceano.

O azul da água é uma verdade universal, que pode ser confirmada cientificamente. Uma vez esclarecidas as sempre interessantes questões da Física, deleitemos a alma com a beleza nostálgica dos azuis marinhos. Inspiremos a aragem profunda emanada pelos mares e deixemo-nos levar pela melancolia macia das águas, ao sabor das ondas celestes do implacável oceano.

Assim se prova que, apesar de se tratarem de áreas mesmo muito diferentes,  a filosofia e a ciência apresentam muitas coisas em comum, sendo a principal semelhança esta atitude de questionar, duvidar das nossas respostas aos problemas do mundo e vontade de descobrir a verdade. É esta a base de qualquer tipo de conhecimento e, consequentemente, de tudo o progresso da humanidade.

Dedicatória

Para terminar, gostaria de expressar e minha vontade de que este post fosse recordado como um hino à juventude e, em particular, à infância, dedicando o texto a todas as crianças cientistas e filósofas do mundo no momento em que este post está a ser lido.

EUSO 2009: um ano depois (as provas)

Foi precisamente no dia 5 de Abril de 2009 que a comitiva portuguesa das EUSO Murcia 2009 regressou a casa, trazendo moralizadoras e merecidas medalhas de bronze, mas, acima de tudo, memórias fantásticas de uma semana inesquecível.

Deste modo, assinalando o primeiro aniversário da chegada dos jovens cientistas à pátria,  pretendo recordar aqui os melhores momentos das Olimpíadas de Ciência da União Europeia do ano passado, evidenciando os motivos que tornaram esta aventura uma experiência tão enriquecedora e memorável.

As provas: grandes testes ao nosso potencial e lições para o futuro.

Seguindo as normas da organização, os testes das EUSO 2009 envolviam sempre uma componente experimental e uma vertente teórica. Genericamente, podemos dizer que o trabalho laboratorial era a base de tudo, uma vez que a avaliação dos grupos residia nos registos de medições e resultados, bem como nas respostas a questões relacionadas com as actividades a realizar.

Foram realizadas duas provas: uma no dia 31 de Março (3ª feira) e outra no dia 2 de Abril (5ª feira). Ambas as provas estavam divididas em 3 partes, referentes aos três domínios da ciência abordados, passo a citar, a Biologia, a Química e a Física. No entanto, não deixou de ser curioso que, no teste do dia 31 de Março, o segmento de Biologia se tratasse, na verdade, de uma actividade de Química, com um pequeno exercício no final sobre o ciclo de vida do bicho-da-seda.

De um modo geral, para quem não estiver interessado em ler  informação específica sobre cada uma das provas, posso dizer que foram muito interessantes, estimulando o nosso espírito científico e desenvolvendo a nossa capacidade de resposta a problemas inéditos. Fomos a Espanha com o intuito de honrar o nosso país, procurando ultrapassar as dificuldades que certamente iríamos encontrar, na tentativa de superar o nosso melhor. Ao mesmo tempo, participámos nesta grande competição científica tendo como propósito aprofundar os nossos conhecimentos nas nossas áreas predilectas e desenvolver competências fundamentais para a nossa formação e carreira.

Pois bem, não poderíamos ter sido mais bem sucedidos nestes objectivos, algo que podemos confirmar pela extraordinária evolução que protagonizámos do primeiro para o segundo teste. Por isso vos digo: foi formidável!

Competências adquiridas:

  • encarar situações novas
  • reagir a adversidades
  • trabalhar em equipa
  • aprender com os erros

1ª prova: fibras têxteis

Cada prova estava subordinado a um tema em concreto, que funcionava como mote de todo o teste. Na primeira prova, o tema central eram as fibras têxteis, dado que 2009 foi considerado o Ano Internacional das Fibras Naturais. A parte de Biologia, ou melhor, a primeira parte de Química, girava em torno da temática da seda e do famoso bichinho que produz esta fibra natural, devido ao simbolismo da cultura da seda naquela região de Espanha. E, se a segunda actividade de Química incluía uma titulação e a síntese artificial de nylon, a parte de Física baseava-se numa comparação das propriedades da seda e do nylon.

Não nos correu bem esta prova. O nosso grupo estava habituado a trabalhar em conjunto durante na totalidade do tempo, realizando todas as actividades do teste colectivamente. Ora acontece que este sistema tinha muitas vantagens  nas provas das Olimpíadas de Física, onde a sua utilização nos tinha catapultado para o primeiro lugar nas regionais e nas nacionais, mas não se aplicava ao modelo de prova das EUSO, com três actividades complicadas, repletas de problemas novos para nós, que exigiam muito tempo e toda a nossa concentração.

Durante a prova, encontrámos diversas contrariedades contra as quais nada podíamos fazer, e outras que, com mais experiência de laboratório e concentração em alguns instantes, talvez tivéssemos conseguido ultrapassar. O estado de saúde do Duarte, um bocado adoentado, com sintomas de gripe, veio prejudicar o nosso desempenho, apesar da atitude aguerrida do nosso companheiro de equipa. Outro aspecto altamente imprevisível que nos impediu de triunfar foi as deploráveis condições das balanças da universidade, cujos pratos não estavam completamente fixos, impedindo assim uma medição rigorosa das massas, que nos fez errar o cálculo das densidades.

No entanto, o resultado teria sido muitas vezes melhor se tivéssemos terminado a prova, algo que não aconteceu devido à nossa deficiente divisão de tarefas, ou se tivéssemos encarado as questões com mais atenção, pois tínhamos capacidade para fazer melhor, não fossem as condicionantes de tempo e a grande dimensão da prova. Resultado final: 31 pontos num total de 94 possíveis. Um novo record nas nossas carreiras de estudantes: a pior classificação de sempre (como o Duarte fez questão de referir, com humor).

Os testes exigiam mais experiência de laboratório e uma tripartição do trabalho, com um aluno especializado em cada uma das actividades. Não era difícil entender isto, mesmo para quem pensava que a prova tinha corrido bem (que ingenuidade, a nossa). De facto, sentimos que não tínhamos feito má figura, uma vez que havíamos percebido os conteúdos abordados e tínhamos realizado praticamente todos os trabalhos laboratoriais (como eu disse depois no hotel, “não perdemos o comboio da ciência”). No entanto, os pontos residiam nas questões, e nesse capítulo tínhamos cometido demasiados erros…

2ª prova: sumos de fruta

Se bem me lembro, o teste do dia 2 de Abril centrava-se no estudo dos sumos de fruta segundo diferentes perspectivas. A parte de Biologia, desta vez incidia realmente sobre a ciência da vida, girava em torno da observação microscópica de seres vivos de de diferentes reinos, que suscitava questões diversas, estando de alguma maneira relacionada com a questão dos sumos (não me recordo exactamente como). A actividade de Química, por sua vez, voltava a incluir titulações e diversos cálculos envolvendo moles, enquanto o grupo de Física tinha como grande objectivo a determinação da capacidade térmica mássica do sumo (utilizando água em substituição deste líquido).

Tirando preciosas ilações da prova anterior, optámos por uma inteligente divisão de tarefas, desdobrando a nossa equipa nos seus três membros constituintes: Frederico, o biólogo, Duarte, o químico, André, o físico. E assim, motivados pela perspectiva de uma grande prova, demos início às actividades, cada um responsável pela sua parte, após um curto período de análise do teste em conjunto. Naturalmente que também houve entreajuda nesta prova, mas ocorreu de uma forma muito mais estratégica e profícua do que na ocasião anterior.

Firmes no nosso propósito, com uma postura correcta face aos trabalhos propostos, não recuámos perante as adversidades e fizemos frente aos problemas, contornando as barreiras que se nos afiguravam. Todos nos confrontámos com situações de difícil resolução, mas uma análise cuidada das circunstâncias e muita determinação na tentativa de corrigir os erros permitiram encontrar as soluções adequadas. Quando precisávamos da ajuda de um colega, quer para questões técnicas quer em termos de conhecimentos, não hesitávamos em pedir e o nosso compatriota vinha prestar auxílio tão rapidamente quanto as suas actividades o permitiam. Funcionámos muito bem.

No fim, eu, que cooperei activamente com os meus colegas, intervindo nas várias partes da prova, e tinha compreendido perfeitamente todos os exercícios do segmento de Física, acabei por não conseguir chegar aos resultados desejados. Porquê? Pela mesma razão pela qual não conseguíramos determinar as densidades do nylon e da seda no primeiro teste: balança com o prato mal colocado. Já me debati diversas vezes com a questão e a conclusão é inevitável! Um mau posicionamento daquela peça da balança prejudicou as medições das massas de água, influenciando todos os resultados na mesma ordem de grandeza, visto que o gráfico obtido era uma recta, mas em vez de passar pela origem interceptava o semieixo positivo das abcissas.

Tentei de tudo para rectificar a situação, mas já era tarde e tive de trabalhar com os dados que tinha, até porque sabia que o meu procedimento estava correcto! Depois, todos os exercícios ficaram errados, em cadeia, e eu nada podia fazer! Se não fosse o raio da balança… aqui está um parâmetro em que o material da nossa escola tem alguma superioridade!

No final, viemos a saber que a nossa classificação nesta prova tinha sido de 70 pontos num universo de 86 possíveis. Nada mau! Fizemos grandes progressos relativamente ao teste anterior! E, aparentemente, as minhas peripécias com a balança não tiveram um efeito demasiado negativo no resultado final, posto que preenchi correctamente os registos, elaborei um gráfico de acordo com os meus dados e ainda acertei a uma questão de escolha múltipla. Fui penalizado nos valores das massas, no cálculo da capacidade térmica mássica e nas duas alíneas que se seguiram, dependentes da determinação de c. De resto, como o motivo do meu erro foi uma questão exterior à minha responsabilidade, e também participei activamente nas respostas ao questionário de biologia, cooperando magnificamente com o Fred, fiquei de consciência tranquila e sinto que cumpri o meu dever como membro da equipa.

E assim se demonstrou que o trio de cientistas do Restelo tinha um imenso valor e aprendera imenso com a experiência do primeiro teste! Se, no dia 31 de Março, tínhamos conseguido não perder o expresso europeu da ciência, na segunda prova não só apanhámos o comboio, como também chegámos ao fim da linha! Ou pelo menos ficámos perto. Como disse a professora Isaura Vieira, da DGIDC, “se tivesse havido uma terceira prova…”.

Aviso: mais tarde falarei sobre os outros aspectos das EUSO 2009.