Tavares, Durval, Bruno Novo e Jordan lideram a divisão Norte da Liga Italiana!

A selecção portuguesa de futebol de praia é reconhecidamente uma das melhores da modalidade, representando o país ao mais alto nível em todas as competições internacionais, coma jogadores de grande qualidade técnica que proporcionam grandes espectáculos nas areias de todo o mundo.

Contudo, os atletas portugueses não se destacam apenas ao nível da selecção nacional, uma vez que também no futebol de praia existem clubes que competem em ligas nacionais. O Campeonato Italiano destaca-se entre as ligas existentes, reunindo um vasto número de equipas, onde actuam os melhores jogadores do futebol de praia italiano, europeu e mundial. Desta forma, os jogadores portugueses, enquanto grandes atletas da modalidade, costumam marcar presença nas competições italianas, onde por vezes alcançam excelentes resultados. Tem sido o caso de Madjer, Alan, Belchior, Hernâni, Marinho, Torres, Sousa e Zé Maria, que nas últimas temporadas têm feito excelentes prestações, ao serviço dos mais diversos emblemas transalpinos.

No entanto, não são só estes nomes mais ilustres da selecção nacional que participam nos eventos italianos! De facto, se já em 2010 Nuno Tavares e Durval haviam participado no Campeonato Italiano ao serviço do Sambenedettese, este ano foram 4 os portugueses contratados pelo clube de San Benedetto del Tronto, com Bruno Novo e Jordan a juntarem-se aos companheiros de selecção para a temporada de 2011!

E a época não podia ter começado melhor! Após uma primeira semana marcada pela apresentação oficial da equipa e pelos treinos, o Sambenedettese disputou, no passado fim-de-semana, em Viareggio, a primeira etapa da divisão Norte, na qual está inserido. Enfrentando 3 equipas muito diferentes, a equipa mais portuguesa do Norte de Itália soube contornar todas as dificuldades que se lhe afiguraram, derrotando Casino de Veneza, Viareggio e Coliseu, com a particularidade de todos os golos da equipa, nos 3 jogos, terem sido marcados pelos jogadores portugueses!

Durval e Jordan (a vermelho e azul) jogaram na equipa do Sambenedettese que derrotou o Casino de Veneza por 4-3 no jogo inaugural da primeira etapa. Os golos foram da autoria de Jordan, Bruno Novo e Durval (2).

O primeiro adversário era o mais acessível, apesar de ter sabido construir uma oposição de peso ao conjunto do Sambenedettese. Ainda assim, os 2 golos de Durval, experiente na Liga Italiana, e as estreias em grande de Jordan e Bruno Novo, com 1 golo de cada um, foram suficientes para a equipa de San Benedetto vencer o jogo (4-3) e conqusitar os primeiros 3 pontos.

O segundo jogo constituía um desafio mais imponente, uma vez que o Sambenedettese teria como adversário o conjunto da casa, o histórico Viareggio. Porém, mais uma vez, a capacidade ofensiva dos jogadores lusitanos potenciou um excelente resultado, com Bruno Novo em grande destaque, ao apontar 3 golos, bem como Tavares, autor de 2 tentos, e ainda Durval, que marcou o outro golo da equipa. O clube de San Benedetto venceu por 6-4 e alcançou assim a sua segunda vitória consecutiva, somando 6 pontos. Finalmente, no terceiro jogo desta primeira etapa, o Sambenedettese enfrentava a fortíssima equipa do Coliseu, que contava nas suas fileiras com grandes nomes da modalidade, tais como os italianos Del Mestre, Leghissa, Soria e Maradona Junior, os espanhóis Javi Torres, Cristian Torres e Kuman e o brasileiro Rui Mota. Porém, a equipa do Sambenedettese contava com Jordan, Bruno Novo, Durval e Tavares, que mais uma vez deram provas da sua enorme qualidade e derrotaram com categoria os seus adversários.

Num jogo muito equilibrado, em que a incerteza no marcador foi uma constante, Jordan marcou por uma vez, sendo que Durval e Bruno Novo bisaram, terminando o tempo regulamentar com uma igualdade a 5 bolas. Foi então necessário recorrer ao prolongamento de 3 minutos, em que o Sambenedettese conseguiu confirmar o ascendente que se vinha a verificar desde o 3º período, com um golo de Durval que fez o 6-5 favorável à equipa de San Benedetto, que conquistou assim 2 preciosos pontos.

A equipa do Sambenedettese lidera neste momento o grupo Norte do Campeonato Italiano, com 8 pontos conquistados, beneficiando dos deslizes do Coliseu e do Milão, surpreendentemente derrotado pelo Viareggio. Por seu turno, Bruno Novo e Durval estão bem posicionados na classificação de marcadores, com 6 golos apontados por cada um, sendo que os outros golos da equipa foram da autoria de Jordan e Tavares, cada um com 2 tentos registados.

Para mais informações sobre os jogos aconselhamos a consulta do site oficial da competição. Aproveitamos para anunciar que a segunda etapa da divisão Norte se disputará entre os dias 7 e 10 de Julho, enquanto as duas etapas da divisão Sul se disputarão entre os dias 1 e 3 de Julho e 14 e 17 de Julho. A fase final terá lugar em Ostia, perto de Roma, entre 26 e 28 de Julho.

Ricardo Sá: ECOMODA

Nota introdutória: É verdade. Não escrevo livremente no meu blogue há muito tempo. Na maior parte das vezes, limito-me a colocar os textos que elaboro para a disciplina de Português ou a utilizar os posts no blogue para um fim específico. A meu ver, não podem existir grandes dúvidas em torno da contestação a esta atitude anti-bloguística que tem desvalorizado a cada dia que passa a qualidade deste site (que nunca atingiu os níveis por mim desejados).

Em todo o caso, não é por eu não escrever no meu blogue que o blogue deve permanecer no obscurantismo e por essa mesma razão, aliada à importância de conceder um favor a uma amigo, acolhi de boa vontade um texto da sua autoria, que ganha ainda mais interesse por contar uma história interessante! Por isso, sugiro a todos a leitura deste texto do Ricardo Sá, no qual traz até nós as aventuras de um grupo de Área de Projecto da sua turma, em São Miguel, nos Açores. Tema? Moda Ecológica, uma ideia vanguardista que pode vir a ter futuro!

Concedo agora a palavra ao Ricardo:

Hoje vou falar de um projecto que, aviso desde já, não estava à espera de que tivesse tanto sucesso como está a ter. Este projecto ocorreu na Escola Secundária Antero de Quental, Açores, São Miguel, sendo que se chama “ ECOMODA” e inclui reinventar novas roupas com materiais reciclados (jornais, tampas de garrafas de cerveja e muitas outras coisas reutilizáveis!) .

O projecto começou em Setembro, quando se procedeu à divisão dos grupos no âmbito da Turma E. Ficaram neste grupo 8 magníficas pessoas: Beatriz Fraga, Beatriz Farias, Beatriz Tavares, Dina Reis, Jéssica Carreiro, Maria João, Maria Rita, Rita Raposo e Soraia Pereira. A partir deste mês instaurou-se a “revolução” da moda ecológica. Como o trabalho destas alunas implicava bastante esforço manifestaram uma opinião unâmine: trabalhar durante a tarde, nos dias em que se não haveria aulas. Por exemplo, não podiam trabalhar na quinta-feira, pois tinham a tarde preenchida com aulas. Felizmente, todas elas trabalhavam num projecto que, a pouco e pouco, foi conquistando alguma “fama” na escola, pois criaram o facebook para o Ecomoda (com o facebook as pessoas sabem de tudo).

No dia 12 de Outubro de 2010, os adolescentes que queriam participar podiam inscrever-se no ECOMODA, pois as alunas iriam organizar um desfile no dia 13 de Maio do ano seguinte (2011). Começaram então a surgir muitos pedidos (cerca de 30 pessoas), o que implicava 30 vestidos. Lembro-me de elas terem pedido para a professora de Matemática participar no desfile, algo que a professora aceitou. Não eram só as raparigas que queriam desfilar: muitos rapazes também o queriam! Em todas as tardes, elas foram começando a trabalhar mais arduamente, pois estavam a somar-se bastantes pedidos.

Houve dias de semana em que fui ao seu local de trabalho ver os vestidos, sendo que fiquei imensamente admirado! Todos os vestidos eram espectaculares! Com o decorrer do tempo, começaram a vir os elogios da parte dos professores que de vez em quando viam os vestidos na Galeria: “ que vestido de lindo!” (uma das muitas expressões utilizadas pelos docentes).

O Professor Jorge Cabral, que é o nosso Professor de Área de Projecto, ficou encarregue das partes consideradas mais difíceis, sendo que uma delas era falar com a Anima para poder patrocinar o desfile, algo que foi de imediato aceite pela Anima. A partir de meados de Abril, as excelentes raparigas ficaram ansiosas pelo facto de se estar a aproximar o dia do Desfile. Estavam a faltar os retoques para o evento, que concordaram agendar para o Jardim Antero de Quental.

No dia do Desfile, 13 de Maio de 2011 (sexta-feira, dia no qual se diz que acontecessem azares, mas felizmente elas não tiveram azar nenhum!), as alunas estavam todas vestidas da mesma cor (preto), pois assim o quiseram e julgo que simbolizava o que tinham de semelhança entre elas. Houve 4 júris, que iam decidir os vencedores dos prémios: cheques de oferta, atribuídos aos 3 primeiros lugares e também para a Simpatia, Fotogenia e Ecomoda. Tinham montado uma tenda enorme ao pé do Jardim onde ficavam alojados os participantes. Ficaram distribuídas nos seus lugares as organizadoras, umas ao pé da apresentadora, outra ao pé dos jurados, outras ao pé dos participantes e ainda outras a vigiar. De referir ainda que a apresentadora era a Professora de Português.

O desfile começava às 10 h e ia ser constituído por 2 partes. Começou a afluir muita gente e, como é normal na adolescência, ficaram cada vez mais nervosas. O desfile começou e principiaram a aparecer ao vivo e a cores os vestidos. Todos ficaram estupefactos pelas roupas bem criativas e vivas. Filmaram, tiraram fotografias a todas/todos os participantes, tanto femininos como masculinos!  No final da 1ª parte, teve lugar uma actuação de 2 pessoas que trabalhavam no ECOMODA: Beatriz Farias e Rita Raposo. Cantaram muito bem! De salientar a bela perfomance da professora de Matemática, que desfilou muito bem!

Na 2ª parte, foi mais do mesmo, mas no bom sentido, com novos vestidos e novas participantes que ainda não tinham desfilado! No final da 2 parte, foi chegada a altura de a apresentadora anunciar os vencedores, sendo que os prémios foram muito bem entregues. Foram entregues os prémios da Simpatia (venceu um rapaz), Ecomoda e Fotogénico (nestas categorias venceram 2 raparigas).

O que fica aqui mostrado é o facto de haver uma alternativa para as roupas que utilizamos no dia-a-dia. Para concluir, anunciarei que, de 16 a 21 de Maio 2011, está a decorrer uma exposição na Anima para o público contemplar os vestidos, sendo os cheques de prenda entregues neste dias.

Parabéns às minhas colegas/amigas pelo excelente trabalho que fizeram este ano lectivo! Que o vosso projecto sirva de exemplo para próximos eventos escolares. Viva o ECOMODA!

Um abraço do vosso colega/amigo Ricardo Sá!

BERUBY: GANHA DINH€IRO usando a Internet (simples)

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Na sociedade actual, o dinheiro emerge como um bem essencial para uma vida saudável, segura e confortável. Sem dinheiro não conseguimos concretizar os nossos desejos materiais, alcançar algumas das metas que traçamos e viver dentro dos padrões pretendidos. Hoje em dia, no contexto de crise económica em que Portugal está mergulhado, a poupança e a contenção das despesas assume uma importância primordial. Mas já pensou em aumentar as suas receitas?

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De facto, numa época financeiramente tão conturbada como a que atravessamos, a procura de meios alternativos de fazer dinheiro constitui uma hipótese a considerar. E, neste capítulo, a Internet desempenha inquestionavelmente um papel fundamental, oferecendo-nos milhares de maneiras diferentes de aumentar os seus rendimentos. Inclusivamente, existem maneiras muito simples de o fazer!

Sites PTC

Uma das formas mais simples de fazer dinheiro online consiste no recurso aos sites PTC, do inglês Paid to Click, onde os membros são pagos por clicar em anúncios publicitários ou ligações para outros sites da Internet, sem qualquer investimento por parte do utilizador! São sites que, apesar de oferecerem preços aparentemente insignificantes por cada dia de actividade, possibilitam a obtenção de largas quantias ao fim de algum tempo, caso o utilizador explore adequadamente as funcionalidades disponibilizadas.

BERUBY

Não terei dúvidas em considerar o Beruby um dos melhores (se não mesmo o melhor) sites PTC à nossa disposição na Internet. Na verdade, várias pessoas constroem contas de 500 € em Beruby, com base numa utilização inteligente das possibilidades por ele oferecidas. De utilização extremamente fácil, credibilidade total e lucros atractivos, o Beruby é claramente um site que vale a pena experimentar!

Neste site, os pagamentos ao utilizador processam-se sobretudo por PayPal ou por transferência bancária, sendo o primeiro pagamento realizado quando tiver atingido um valor de 10 €.

A primeira vantagem está no bónus de inscrição instantaneamente oferecido pela Beruby: 1 € de bónus! Seguidamente, o utilizador pode começar a ganhar dinheiro, servindo-se das 3 modalidades oferecidas pelo site: ganhar por visita, ganhar por registo e ganhar por compra.

1) Ganhar por Registo

Para ganhar por registo, é necessário aceder aos sites indicados na secção correspondente, fazendo o registo nesses sites e ganhando uma comissão. Neste capítulo, é preciso ter cuidado para não se inscrever em sites que requeiram o seu número de telemóvel para lhe enviarem mensagens pagas. Assim, deve limitar-se a subscrever os serviços totalmente gratuitos, que lhe rendem uma determinada comissão, indicada no Beruby.

Eis a lista dos serviços gratuitos em que me inscrevi e que me renderam 1,47 €:

  • Clube Fashion
  • Gabriella
  • Goodlife
  • Iminent
  • LetsBonus
  • Miau.pt
  • TARA
  • Westrags
Para clientes Vodafone, aconselho ainda a inscrição nos 3 serviços disponibilizados pela operadora, cada um dos quais rende 50 cêntimos, perfazendo um total de 1,50 €.

2. Ganhar por Visita

Esta é a forma mais simples de ganhar em Beruby, embora seja também a menos rentável (aparentemente). Consiste em visitar diariamente alguns dos sites mais famosos e utilizados da Internet, fazendo-o a partir de Beruby. Sim, aqui pode fazer dinheiro visitando o Facebook, o Youtube, o Sapo, o Hi5, o site oficial do jornal A BOLA e também o blogue da Beruby.
No total, as visitas diárias a estes websites a partir de Beruby rendem 3,5 cêntimos. Além disso, a simples visita diária à sua conta Beruby rende 1 cêntimo. Assim, pode auferir 4,5 cêntimos diários sem qualquer dificuldade, gastando cerca de 1 minuto nesta actividade muito simples!

3) Ganhar por Compra

Esta será, porventura, a modalidade de ganhos em Beruby  que permitirá coleccionar quantias mais avultadas. Porém, o nível de adequação desta campanha varia de pessoa para pessoa, uma vez que exige que o utilizador faça compras pela Internet (algo que nem todos os portugueses fazem). Porém, se está habituado a comprar pela Internet, esta é a área certa para si, uma vez que poderá fazer dinheiro sem esforço algum, sempre que comprar algo de que necessita.
Naturalmente que, nesta secção, as comissões não atingem valores muito elevados. Porém, se o valor do produto comprado for de 50 €, aplicando-se uma comissão de 3% do valor da compra, terá 1,50 € na sua conta Beruby, o que é um valor bastante agradável.

COMO GANHAR MUITO MAIS: REFERIDOS!

Como pode certamente entender, nenhuma das modalidades acima apresentadas (visita, registo e compra) permite a obtenção de quantias muito elevadas. Como explicar, então, que algumas pessoas já tenham conseguido lucros tão avultados em Beruby?

O segredo do sucesso destes utilizadores prende-se com a formação de uma vasta rede de referidos. Esta estratégia consiste basicamente em o utilizador convidar outras pessoas para se inscreverem em Beruby, sendo que, no momento da sua inscrição, se tornam referidos do utilizador. Para convidar pessoas para se inscreverem em Beruby terá de utilizar o seu link de convite, que poderá encontrar em “Minha Rede”.

Uma vez inscritas, essas pessoas passam a contribuir para o aumento dos seus lucros, uma vez que o utilizador ganha cerca de 10% do valor das comissões de cada referido. Ora, isto significa que, quando um utilizador consegue arranjar 10 referidos, o que é relativamente fácil, pode duplicar o valor dos seus ganhos diários!

E, caso o utilizador se sirva de uma plataforma de divulgação adequada, como sites, blogs, facebook, twitter e outros, será muito fácil atingir um grande número de referidos, que possibilitarão uma expansão impressionante dos seus ganhos!

Assim, a formação de uma rede de referidos constitui uma mais valia de Beruby, possibilitando a obtenção de quantias verdadeiramente avultadas com base neste site.

INSCREVA-SE JÁ!

Resta-me apelar a que todos se inscrevam em Beruby, pois terão certamente muito a ganhar! Clique aqui e inicie o registo, que é fácil e não custa tempo algum! Verá que vale a pena!

Estou, naturalmente, totalmente disponível para responder às vossas questões e prometo ajudar em tudo o que for preciso. Por favor, deixem as vossas dúvidas e opiniões nos comentários, para que eu possa responder e auxiliar-vos em tudo o que seja necessário.

Votos de sucesso,
André Coroado (Andrey Amabov).

Algumas sugestões acerca do assassinato de Bin Laden e as políticas da administração Obama

Na sequência de uma interessante discussão no moral do Pedro Pereira no facebook, tertúlia essa que gerou um avultado número de comentários, achei relevante expor a minha opinião acerca do tema em questão: o assassinato de Osama Bin Laden por forças militares norte-americanas, as consequências e possíveis represálias que tal ocorrência poderá motivar e o papel do Presidente dos EUA nesta questão polémica e delicada. Enfim, publiquei um comentário no qual expressava as minha posições, sintetizando um pouco as conclusões a meu ver brilhantes que tinham sido alcançadas. Deixo agora o meu comentário aqui no blogue, para que possa transmitir o que penso acerca do assunto a um número mais alargado de leitores. A discussão gerada no facebook pode ser lida integralmente aqui.

Em primeiro lugar, concordo com quem afirma que o assassinato de Osama Bin Laden representa uma violação dos direitos humanos e uma forma de réplica baseada no mesmo princípio subjacente à estruturação do terrorismo.

Enquanto política anti-terrorista deixa realmente muito a desejar, pois Bin Laden era acima de tudo um símbolo do movimento extremista islâmico. A morte do seu líder espiritual deverá semear a ira nos activistas da Al-Qaeda, que, feridos no seu orgulho fundamentalista, decerto se tentarão desforrar dos norte-americanos e da sociedade ocidental que tanto repudiam… Quanto a Portugal estar incluído nos potenciais países afectados por ataques terroristas, julgo que, pelo menos a curto prazo, não corremos esse risco, dada a nossa reduzida preponderância política e económica no ocidente. Porém, mesmo cingindo-nos a uma lógica egoísta, existem inúmeras razões para encararmos com muita seriedade esta situação (um atentado num dado país do ocidente não deixaria de produzir repercussões mais ou menos acentuadas nas diversas nações europeias).

Quanto à atribuição do prémio Nobel da Paz a Obama, aí sim, gostaria de me manifestar mais alongadamente… Penso que existem muitos factores a ter em conta e devemos ser prudentes na análise da questão. Afinal, a contestação à atribuição surgiu imediatamente após a revelação do vencedor, dado que por toda a parte se ergueram vozes contra a atribuição do prémio a um chefe de estado que acabara de reforçar o contingente norte-americano no Afeganistão, ao passo que outras personalidades se teriam destacado mais vivamente em nome dos valores pacifistas. Relativamente à morte de Bin Laden, tratou-se, decerto, de uma acção deliberada da parte do exército norte-americano, que terá indubitavelmente envolvido um trabalho moroso de planificação da missão e, a meu ver, o consentimento de Obama, que terá conhecimento das manobras conduzidas pelas milícias norte-americanas no Oriente… De facto, se assim for, estamos perante um Nobel da Paz que pactua com a filosofia do “olho por olho”, não existindo desculpa possível. 

Porém, Obama não governa sozinho, sendo decerto influenciado por inúmeros parceiros governamentais, outros órgãos de poder, políticos de ideias divergentes (aqui temo pela fogosidade (pseudo)patriótica dos republicanos), um sistema capitalista complexo (do qual pouco entendo, mas que acredito que possa influenciar as decisões políticas) e um povo, cuja vontade também tem algum peso… E, relativamente aos cidadãos, não nos esqueçamos da verdadeira finalidade de Obama, oculta por detrás de um eventual desejo de “devolver o orgulho aos norte-americanos”: a crescente proximidade das eleições presidenciais nos EUA, que não se afiguram fáceis para Obama, considerando os maus resultados dos democratas nas eleições legislativas (ainda que se tratem de votações bem distintas, julgo existir uma correlação da qual se poderão retirar algumas conclusões) e a perda de popularidade de Obama em tempos recentes… Talvez a administração Obama tenha actuado no sentido de acelerar as buscas de Bin Laden, autorizando os agentes da missão a usar a força necessária, antevendo um cenário de prosperidade eleitora… 

Não sei se foram muito rebuscadas, ou simplesmente descontextualizadas estas hipóteses. De qualquer modo, são tantas as explicações que podemos conceber neste momento (altamente propício a teorias da conspiração), que nem sei no que pensar!

Os Lusíadas: um Poema e um Museu

Segundo a tese apresentada, Os Lusíadas transcendem largamente as dimensões de um poema vulgar. São uma obra colossal da literatura portuguesa, funcionando igualmente como registo da grandeza da Pátria que os portugueses lograram erigir. A sua dualidade exprime-se através da magnificência nacional e da genialidade do poeta que eximiamente a revelou ao mundo, relatando feitos verídicos de autoria lusitana. O autor defende, portanto, a elevação d’ Os Lusíadas ao duplo estatuto de poema e museu, face à grandeza camoniana de conjugar factos reais numa glorificação apoteótica do povo português.

N’ Os Lusíadas, sobressaem a riqueza literária de um poema épico colossal e o seu enorme valor enquanto fonte documental da glória portuguesa do passado. São indubitáveis «o engenho e arte» que Camões incutiu nesta obra, transformando-a num ícone da literatura nacional, enquanto registava «As obras portuguesas singulares», para que fossem reconhecidas pelo seu heroísmo. Contudo, o poeta não se limitou a demonstrar a glória inerente aos eventos mais resplandecentes da viagem e da História portuguesa: Camões almejava uma difusão universal da grandeza lusíada («Cantando espalharei por toda a parte»), visando a superação dos modelos clássicos («Julgas agora, Rei, se houve no mundo / Gentes que tais caminhos cometessem?») e a ascensão de Portugal a um estatuto supremo («Que outro valor mais alto se alevanta!»). Consequentemente, Camões imortalizou os feitos portugueses, materializando o seu amor à Pátria numa epopeia representativa da identidade nacional.

Camões operou também uma restrição do universo épico aos feitos reais dos portugueses, que os heróis nacionais efectivamente praticaram («obras tão dignas de memória»), ficcionando apenas a intervenção dos deuses clássicos, alegórica («Só pera fazer versos deleitosos / Servimos»), e pequenos episódios estilisticamente criados pelo poeta para engrandecer a glória portuguesa, alicerçados em factos verdadeiros. Não obstante, Camões deseja que os extraordinários feitos reais dos portugueses superem as acções fictícias dos heróis clássicos («As verdadeiras, vossas, são tamanhas / Que excedem as sonhadas, fabulosas»). Assim, escrever uma epopeia da grandiosidade das epopeias clássicas sem ficcionar significativamente constitui uma prova da genialidade camoniana e da glorificação prodigiosa dos portugueses na obra.

Concluindo, Os Lusíadas são uma epopeia que engrandece Portugal duplamente: pela magnificência literária da obra e pela forma extraordinária como dignificam cada feito da História de Portugal. Poema paradigmático da literatura portuguesa, Os Lusíadas revelam ao mundo a honra gloriosa encerrada no «peito ilustre lusitano». Nos seus versos, simultaneamente verdadeiros e transcendentes, perpassa um sentimento patriótico que vivifica a alma lusíada!

Elementos da Tragédia Clássica na transmissão da mensagem sociopolítica de «Felizmente há Luar!»

A defesa da liberdade e da justiça, atitude de rebeldia, constitui a hybris (desafio) desta tragédia. Como consequência, a prisão dos conspiradores provocará o sofrimento (pathos) das personagens e despertará a compaixão do espectador.

Segundo a tese acima apresentada, «Felizmente há Luar» inclui elementos estruturais da tragédia clássica, sendo o desafio representado pela apologia da liberdade e da justiça, dada a ousadia patente nesta luta. Considera igualmente que o encarceramento dos revoltosos motiva o sofrimento nas personagens, gerando compaixão no espectador. Assim, o juízo crítico apresentado enquadra a peça na tragédia clássica, apontando o combate por liberdade e justiça como a hybris e entrevendo o pathos nas emoções despoletadas pela prisão dos conspiradores.

Inquestionavelmente, a batalha em prol dos valores liberais está presente na totalidade da obra. Inicialmente, as informações fornecidas pelos populares sugerem uma imagem de Gomes Freire como «um amigo do povo», disposto a lutar contra o sistema sociopolítico vigente, («capaz de se bater com os senhores do Rossio…»). Todavia, tal propósito não se compatibiliza com os interesses dos membros da Junta Governativa («que honras, que posições seriam as nossas, se ao povo fosse dado escolher os seus chefes?»). Assim, os regentes desenvolvem uma feroz oposição aos seus intentos liberais, implementando medidas que visam a prisão daquele «que mais nos convém que tenha sido o chefe da conjura», pois «Em política, quem não é por nós, é contra nós». A luta por liberdade e justiça representa, por conseguinte, o desafio subjacente a esta peça.

Consequentemente, a improbidade patente no encarceramento e condenação do general gera um sofrimento acentuado nas personagens, nomeadamente em Matilde, sua esposa, que empreende esforços infatigáveis no salvamento do marido («troco a minha vida pela dele!»), manifestando constantemente as suas perturbações emocionais («O meu homem!»). Progressivamente, Matilde toma consciência da dimensão do problema, rebelando-se em prantos desesperados, desejando, ironicamente, que o general «tivesse sido menos homem». Os apelos à consciência social do espectador mantêm-se presentes nas suas palavras, rogando-lhes que «Limpem os olhos ao clarão daquela fogueira e abram as almas ao que ela nos ensina!». Indubitavelmente, a comoção apodera-se do espectador, propiciando a recepção da mensagem presente.

Sumariando, em «Felizmente há luar», a defesa dos valores liberais e os obstáculos que se lhe interpõem constituem a hybris, estando o pathos presente no sofrimento causado pela condenação dos seus apologistas. Efectivamente, o desenvolvimento da peça com base numa interligação com os moldes de concepção da tragédia clássica (exposição contínua das questões suscitadas pela hybris, aliada a uma exploração eficaz do pathos) potencia o acolhimento dos valores da liberdade e da justiça, operando uma sublimação da luta correspondente.

A tempestade do mar (Pieter Brueghel)

Durante o segundo período do ano lectivo, no âmbito da disciplina de Português, fomos incumbidos da estimulante tarefa de elaborar a leitura de uma imagem fixa, mais concretamente, de uma pintura. Autorizado a escolher uma das sete obras de arte que constituíam o leque de opções elegíveis, não me deixei tomar por grandes dúvidas e foi com determinação (e alguma afeição que começava a nascer em mim relativamente à pintura) que abracei este projecto, de resultado aparentemente bem sucedido, que coloco hoje online.

Trata-se, confesso, de um modo de, utilizando um texto previamente redigido para fins escolares, manter o blogue em actividade, à semelhança de outras situações em que me socorri desta estratégia no passado. Em todo o caso, acredito que a partilha deste texto pode vir a ser interessante, pelo que vos deixo a minha leitura da obra plástica A tempestade do mar, de Brueghel.

Esta imagem corresponde a uma reprodução em miniatura de um quadro do pintor holandês Pieter Brueghel, intitulado A tempestade do mar, que data de 1568. A obra de arte original, que se encontra exposta em Viena, apresenta 71 cm de altura por 97 cm de largura, constituindo uma pintura a óleo sobre madeira. Distintamente, a reprodução presente no manual escolar possui dimensões mais modestas, tratando-se de uma fotografia do quadro referido.

O quadro representa um cenário exterior, mais concretamente, um ambiente marítimo dominado pela agitação oceânica, com grandes ondas sinuosas vagueando tortuosamente pela superfície, sob o céu sombrio, carregado de nuvens. No mar, sobressaem as embarcações, presumivelmente caravelas, dada a existência da vela latina (triangular), que oscilam ao sabor das vagas, numa água polvilhada de criaturas marinhas, que rivalizam com as aves esvoaçantes do céu. A obra pode, pois, ser enquadrada no âmbito da arte figurativa, surgindo possivelmente associada à alusão a cenas históricas, visto não me parecer que se trate da mera representação de uma paisagem.

Inscrita num formato rectangular, a imagem transmite-se por meio de um emaranhado de linhas oblíquas, parcialmente curvas nas extremidades, que configuram a impressão de movimento subjacente a todo o quadro. A linha do horizonte, horizontal apesar das irregularidades patentes no seu desenho, assume também um impacto significativo na interpretação da semântica da imagem. Porém, mais do que o traçado livre e impetuoso das linhas de força, destaca-se na imagem o carácter esbatido e incerto que os contornos de alguns elementos da imagem apresentam. De facto, embora os triângulos e formas curvilíneas sejam realçados nesta imagem, a semântica criada por Brueghel atinge o observador pelo jogo da incerteza, do mistério, do desconhecido.

O efeito de profundidade, indispensável numa paisagem deste género, encontra-se presente através da diferença de tamanho entre as embarcações mais próximas e as caravelas mais distantes, acompanhada da diminuição do rigor na representação da ondulação em função da distância. Contudo, dado que a criatividade do pintor pretende conferir ao observador uma enorme liberdade de interpretação, a imagem surge imbuída de uma certa liberdade e fluidez, que dispensa o recurso a técnicas de perspectiva elaboradas.

A nível de análise cromática deve ser referida a predominância de cores quentes, maioritariamente escuras, que sugerem a transformação do oceano num agitado mar de lava, enfatizando a intensidade opressiva da tempestade que se abate sobre as naus. Assim, a utilização de tonalidades avermelhadas, alaranjadas e acastanhadas nas vagas indomáveis acentua o tumulto marítimo instalado na pintura, podendo talvez estar associadas às emoções experimentadas pelos tripulantes dos navios. De realçar também que o céu, tenuemente separado do oceano pela linha do horizonte, se encontra em sintonia cromática com as ondas a do mar, cobrindo-se de uma escuridão alaranjada que paira sobre as embarcações, ampliando as dimensões da tormenta.

Não obstante, merece ser mencionada a existência de uma zona do mar de tonalidades mais claras, que se aproximam mais da cor fria e azul que o mar efectivamente assume. Deste modo, verifica-se um contraste de cores claras e escuras, coincidente com um gradiente de temperatura, que orienta o modo como o observador vê a pintura. Além disso, este contraste atribui um significado distinto à região azul esverdeada do mar: a possível existência de uma solução para os problemas, a possibilidade de encontrar uma saída para a tempestade, que permita escapar à fúria dos elementos em conflito feroz.

Podemos, portanto, afirmar que, apesar de a conformação das ondas e a distribuição de criaturas marinhas ser comum às diferentes regiões do mar, se manifesta por via da cor uma certa heterogeneidade do oceano, que poderá conter a chave para a superação da tempestade. A luz, que parece estar sob o jugo da penumbra em todo o quadro, parece dar sinais de si nesta região verde azulada do mar, trazendo consigo uma ideia de esperança associada: a crença na capacidade de ultrapassar os perigos e obstáculos, por maiores e mais temíveis que estes sejam.

A reprodução da imagem no manual da disciplina de Português surge acompanhada de uma sucinta descrição, perfeitamente banal e quase totalmente desprovida de informação complementar. É apenas providenciada aos alunos a informação de que se trata de um quadro de Brueghel, sem lhes serem indicados detalhes sobre o artista ou sobre a técnica utilizada. A informação mais relevante, passível de uma associação ao conteúdo do quadro, reside na indicação da data de realização da obra: 1568. Esta informação permite relacionar a representação de uma cena histórica, ligada à navegação, com as empresas marítimas que foram realmente levadas a cabo durante a época em que o quadro foi produzido, num século que se iniciou com o domínio de vastas regiões por parte dos portugueses, que progressivamente foi dando lugar a uma hegemonia espanhola, sendo igualmente notório o início da expansão marítima holandesa, em meados do século (recorde-se que Brueghel era oriundo dos Países Baixos).

Podem ser associadas a esta imagem diversas funções distintas. Todavia, a que julgo estar mais evidente é a função referencial e descritiva, na medida em que a pintura apresenta ao observador algumas características e peculiaridades da navegação, retratando esta realidade de um modo subjectivo e de certo modo imaginário. Assim, o autor utiliza o poder da pintura para descrever uma situação de tempestade marítima, dando a conhecer uma componente fundamental das viagens oceânicas, submetendo a apresentação do tema aos significados que lhes atribui e, naturalmente, ao seu estilo pessoal. No entanto, a função narrativa também poderá estar presente, se a finalidade do quadro se prender com o relato de um episódio histórico em particular, caso pretenda representar uma cena de uma determinada viagem marítima de um povo europeu. Simultaneamente, a imagem pode desempenhar uma função estética, no caso de o movimento colorido do quadro se afigurar sugestivo e belo aos olhos do observador.

Finalmente, penso que a imagem pode ser facilmente relacionada com Os Lusíadas, uma vez que retrata uma cena marítima, lidando com a temática das tempestades e tormentas, sempre tão presente na epopeia camoniana. Esta pintura de Brueghel poderia ser enquadrada em várias partes da obra, nomeadamente no episódio da tempestade, situado no Canto VI, dado que se pode estabelecer uma ligação entre o panorama tumultuoso que o quadro nos mostra e o contexto de perigo e terror vivenciado pelos navegadores portugueses aquando do abatimento da tempestade sobre a armada de Vasco da Gama. Curiosamente, a elaboração da pintura por parte de Brueghel e a leitura d’ Os Lusíadas por Luís Vaz de Camões a D. Sebastião distam apenas 4 anos no tempo, acentuando o grau de correlação entre as duas obras da genialidade humana.

Redução da duração das aulas para 60 minutos? Globalmente discordo.

Na sequência da intensa (mas globalmente convergente) discussão que se travou nesta postagem do Pedro Pereira no facebook, acerca de uma eventual medida no sentido de reduzir a duração das aulas escolares para 60 minutos, publico o meu “sucinto” comentário, com algumas (ligeiras) adaptações. De salientar que, de um modo geral, não sou grande adepto da proposta, embora considere bastante pertinente o seu debate no contexto do ensino básico.

Entre a chuva de comentários gerada pelo assunto, maioritariamente favoráveis à redução do tempo de aula, encontrei diversos argumentos devidamente fundamentados que preconizavam a duração de 60 minutos. Os principais motivos apresentados pelos defensores da medida prendem-se com a diminuição progressiva da concentração dos estudantes na última meia hora de aula e a consequente quebra de rendimento ao fim dos primeiros 60 minutos, eventualmente associados a uma dificuldade na manutenção da ordem no interior da sala de aula por parte dos docentes. Pela minha experiência pessoal, quer individualmente quer pela interacção diária com colegas sujeitos exactamente aos mesmos horários, estou ciente da validade destes argumentos, não questionando a sua veracidade e pertinência. Porém, existem outras variáveis a ter em conta, que passarei a enunciar, explicitando-os convenientemente.

Em primeiro lugar, admitindo a tendência dos estudantes para o desinteresse face à matéria leccionada na parte final da aula, proponho que nos debrucemos mais profundamente sobre o assunto. Será este um problema verificado exclusivamente nos minutos finais da aula? Penso que não, uma vez que o estado de tédio e desatenção dos alunos em relação à aula se inicia, muitas vezes, poucos instantes após o seu início. De salientar que não quero, com isto, acusar os alunos de uma atitude deliberadamente incorrecta na sala de aula, dado que me limito a constatar um facto, sem pretender atribuir a sua responsabilidade aos estudantes ou respectivos professores. Em todo o caso, confirmando-se a minha hipótese (e mais uma vez invoco a minha experiência pessoal como fonte de suporte), a redução da duração da aula não seria a melhor solução a considerar, devendo antes ser ponderada uma modificação da estratégia de condução da aula, empreendidas por parte dos próprios docentes, que se seriam responsávies pela adaptação das suas aulas a esta tendência estudantil, tendo em conta as características peculiares de cada turma e disciplina.

Adicionalmente, julgo que a redução do tempo de aula coloca outras questões dignas de serem equacionadas cautelosamente, tais como o tempo concedido à realização dos testes ou a necessidade de aumentar a frequência das discplinas ao longo da semana, a fim de possibilitar o cumprimento dos programas escolares. Relativamente aos momentos de avaliação sumativa, defendo que os 90 minutos são indispensáveis à resolução de um teste bem estruturado, passível de avaliar efectivamente as competências cognitivas dos alunos, ao passo que uma prova destinada a ser resolvida em 60 minutos, apesar de possível em determinados contextos e disciplinas, não possibilita uma avaliação tão abrangente e profunda dos conteúdos abordados em aula. Finalmente, tendo em conta a necessidade, amplamente reconhecida, de esbater as diferenças registadas entre o ensino secundário e o meio académico, bem como a longa duração das aulas do ensino superior, considero pertinente a sujeição dos alunos do secundário a aulas mais longas, que lhes permitam realmente uma preparação  apropriada para os intermináveis brainstormings que os esperam nas universidades portuguesas.

Por fim, gostaria de alertar as consciências para outro factor relevante, associado à vasta extensão dos programas letivos de grande parte das disciplinas escolares. Todos nós, alunos so ensino secundário, temos consciência das dificuldades frequentemente sentidas pelos docentes na leccionação de todos os conteúdos integrados nos programas específicos, muitas vezes quase incompatíveis com o número de horas semanais dedicados à disciplina. Assim, a redução da duração das aulas teria de envolver um aumento da frequência semanal das aulas de cada disciplina, a fim de potenciar o cumprimento dos vastos programas das disciplinas, o que não seria necessariamente mau (poderia inclusivamente incitar os alunos a um estudo periódico das matérias aprendidas diariamente, criando hábitos de trabalho positivos).

Todavia, esta medida teria implicações potencialmente gravosas, visto que acarretaria um incremento do número de aulas de disciplinas diferentes num dia, envolvendo uma maior dificuldade dos alunos na captação das informações transmitidas nas aulas de disciplinas distintas, por bombardeamento de conteúdos dissociados uns dos outros. Explorando a questão da frequência semanal de cada disciplina, regressando à comparação com o contexto universitário, verificamos que os estudantes só terão a ganhar em termos de adaptação ao meio académico como a manutenção de 2 ou 3 aulas semanais da mesma área discplinar.

Ainda assim, apesar de me opor, em traços gerais, à implementação desta medida ao nível do ensino secundário, concordarei com uma reflexão cuidadosa e coerente acerca da possibilidade de ser instituída em termos de ensino básico, tendo em conta a maior distância deste nível de escolaridade face à realidade do ensino secundário, a maior tendência para a desconcentração e indiferença registada entre os alunos destas idades e o (parcialmente) consequente estado selvático de muitas aulas do ensino básico em que a brandura ou perda de autoridade por parte dos professores destranca as portas do desrespeito e da impunidade. Reitero a necessidade de uma ponderação adequada a propósito de eventuais medidas neste sentido, tendo em linha de consideração os riscos delicados que uma decisão precipitada poderia envolver a um nível de ensino verdadeiramente estruturante da formação escolar do indivíduo.

Concluindo, manifesto a minha (quase) total discordância face ao fim das aulas de 90 minutos no ensino secundário, que considero desajustada das necessidades de aprendizagem dos alunos a este nível de ensino e da importância de uma transição graual para o meio universitário, admitindo a pertinência de uma potencial redução da duração das aulas para 60 minutos no plano do ensino básico, qualitativamente diferente. Subscreva-se ou não a minha perspectiva, julgo conveniente realçar a pertinência da discussão e faço um apelo a que alguns dos argumentos por mim aqui referidos sejam tidos em conta.

Os Lusíadas: O valor das honras e das glórias conquistadas por mérito próprio (Excurso do Poeta situado no Canto VI)

Depois de muito sofrer e muito penar durante o período carnavalesco, apresento aos meus leitores ocasionais o produto do intenso trabalho de reflexão (e síntese) a que procedi recentemente. Os Lusíadas, esse incrível edifício literário que foi obra de um português! Mas quando os estudantes do ensino secundário são incumbidos da difícil missão de escrever sobre a epopeia camoniana, tudo assume contornos mais agrestes!

Sucintamente, digamos que a dissertação inicial continha 861 palavras, correspondendo a redução deste número para as 600 permitidas (pelo limite estabelecido pelas forças opressoras) a um esforço indómito, passível de me coroar com as maiores honras celestes (e como o meu apelido é Coroado, tudo isto faz sentido).

Bem, sem mais demoras, apresento o texto aos potenciais interessados. Trata-se de uma dissertação, desenvolvida no âmbito da disciplina de Português, acerca de uma passagem d’ Os Lusíadas, nomeadamente, o excurso do poeta situado no Canto VI, correspondendo às estâncias 95-99. Nestes versos inspirados, Luís de Camões reflecte sobre o valor das honras e das glórias conquistadas por mérito próprio, de um modo peculiar, que passarei a descrever:

Em Os Lusíadas, Camões procede a uma apologia do heroísmo português, exaltando a grandiosidade dos feitos lusitanos, especialmente aquando da viagem de Vasco da Gama à Índia. O seu patriotismo transfigura a gente lusíada, mitificando-a. O momento da chegada a Calecute, particularmente, representa a capacidade portuguesa de suportar inúmeros tormentos e transpor quaisquer obstáculos por uma missão patriótica, conquistando glória e imortalidade por mérito próprio. Assim sendo, Camões decide reflectir acerca do valor de tais honras, contemplando a atitude heróica subjacente, distinguindo-a das restantes condutas.

Para Camões, o sofrimento e a superação de perigos são imprescindíveis na busca da glória, intangível para os que se refugiarem nas honras conquistadas pelos seus antepassados, bem como aqueles que viverem na ociosidade, no luxo dos prazeres sem contrariedades ou na inércia do comodismo. Os perigos e medos desafiam os homens, coagindo-os a trabalhar arduamente para vencer as adversidades, podendo alcançar a honra «Por meio destes hórridos perigos, / Destes trabalhos graves e temores». Pelo contrário, a atitude saudosista daqueles que se regozijam à luz da herança gloriosa dos seus predecessores, não conduzirá às almejadas honras («Não encostados sempre nos antigos troncos nobres / dos seus antecessores»). Paralelamente, os requintes gustativos («Não c’os manjares novos e exquisitos»), as expressões da preguiça («Não c’os passeios moles e ouciosos») e a satisfação de infindáveis prazeres («Não c’os vários deleites e infinitos») estiolam a virilidade, obstando à conquista da honra. Assim, os desejos sem oposição, alimentados pela sorte, impedem «que o passo mude / Pera algũa obra heróica de virtude».

A honra não pode ser senão o fruto de um esforço indómito, que envolva sofrimento inquantificável e luta incessante face às dificuldades, associados a uma placidez na confrontação com o perigo, configurando uma atitude virtuosa do indivíduo, passível de gerar uma honra genuína que lhe atribui um estatuto superior. A glória tem de ser procurada arduamente através esforço pessoal («Mas com buscar, c’o seu forçoso braço, / As honras que ele chame próprias suas»). Todavia, essa via revela-se tortuosa, implicando sacrifícios colossais e um sofrimento atroz, vencido graças ao esforço heróico. Suportar as tormentas do oceano («Sofrendo tempestades e honras cruas»), superar os frios meridionais («Vencendo os torpes frios no regaço / Do Sul») e ingerir alimentos deteriorados («Engolindo o corrupto mantimento») são comportamentos propiciadores da honra, quando acompanhados duma valentia estóica, que permita manter frieza e ânimo face aos maiores perigos («E com forçar o rosto, que se enfia, / A parecer seguro, ledo, inteiro»). Tal atitude guerreira conduz à construção da verdadeira honra, nascida da virtude («Desta arte o peito um calo honroso cria»), contrastante com honrarias e dinheiro obtidos fortuitamente. A glória conquistada pelo guerreiro sofredor confere-lhe uma sabedoria serena, que o coloca em «alto assento» e o distingue do «baixo trato humano embaraçado», ascendendo a «ilustre mando» por mérito próprio e não por concessão de favores, aceitando o poder por patriotismo, mesmo «contra vontade sua».

Resumindo, Camões dissocia a honra do saudosismo, da ociosidade e do luxo, defendendo o esforço pessoal, a luta contra o sofrimento e a superação dos medos e perigos como único caminho seguro para a glória. Quem assim agir alcançará as honras da virtude, distintas das oferecidas pela sorte, e logrará uma demarcação moral e intelectual face aos homens. Aplaudo a perspectiva camoniana, subscrevendo a construção da honra pela acção humana. Hoje, no combate ao capitalismo corrupto, somos responsáveis por honrar quem edifica algo de valor, lutando contra adversidades, por dedicação a causas nobres.

O russo que sabia guardar segredos

Saudações a todos os visitantes deste blogue! A frequência dos posts é cada vez menor e são os conteúdos antigos aqueles que ainda vão conferindo algum estatuto a este modesto espaço pessoal online. Porém, o Segundo Andrey Amabov continua aqui, para todos os que tiverem interesse em consultar o seu arquivo, bem como algumas novidades que poderão surgir esporadicamente.

Hoje, inesperadamente, decidi adicionar ao blogue uma pequena novidade. Nada de especial, na verdade: apenas uma curta e desinteressante narrativa de ficção que se começou a desenrolar no meu cérebro, na qual eu reconheci o potencial necessário para ascender ao estatuto de post mais descontextualizado de sempre, destronando posts como este.

Passo, pois, ao texto em si.

O RUSSO QUE SABIA GUARDAR SEGREDOS

Yuri Tabhitryi, ilustre detective moscovita, fora destacado pela polícia russa para mais uma importante missão. Distinguido internacionalmente com as insígnias douradas da SAGA (Secret Agents Global Association), manifestava incríveis aptidões no âmbito da investigação criminal, dotado de um poder dedutivo sem precedentes e da atitude enérgica, mas discreta, que um detective secreto deve demonstrar. Assim, Yuri Tabhitryi não se surpreendera ao saber que os serviços russos de investigação criminal o haviam nomeado para o caso Dinara Betpodlyi.

Conveniente seria talvez explicar quem era Dinara Betpodlyi e em que consistia concretamente o caso atribuído a Yuri Tabhitryi. Sucintamente, digamos que se tratava do roubo do maior diamante jamais encontrado em jazigos terrestres, propriedade da mais mediática estrela pop que a Rússia alguma vez conhecera. Graças a uma colossal manobra de ocultação de informação, o crime permanece longe das demolidoras páginas da imprensa da cidade, sendo a privacidade de Dinara Betpodlyi salvaguardada e o trabalho dos investigadores livre de obstruções jornalísticas.

A avultada recompensa oferecida pela cantora em troca do seu diamante seria prémio apetecível para qualquer detective. Porém, para Yuri Tabhitryi, a defesa da honra e o desejo de justiça são os factores que mais o movem. Deste modo, ainda que os indícios escasseassem e a forma como o crime fora conduzido se aproximasse da perfeição, Yuri Tabhitryi desenvolveu uma brilhante investigação, solidamente alicerçada na infalibilidade dos seus métodos, aqui não descritos, que o guiou ao culpado num espaço de tempo inferior a uma semana: Dmitri Sozsmelyi.

Exactamente. Dmitri Sozsmelyi, o insaciável assaltante, indómito aventureiro, de uma tão grande astúcia que nunca se deixara capturar pela justiça. Homem pacífico, declaradamente contra a violência das armas de fogo, impressionava pela proeza inaudita que constava do seu infindável currículo: nunca matara, ferira ou agredira as suas vítimas. Tal humanismo, associado ao calculismo meticuloso com que planeava cada crime, faziam de Dmitri Sozsmelyi uma presa difícil, raramente deixando pistas, jamais deixando provas.

Sucede também que Dmitri Sozsmelyi, durante as longas temporadas de férias que ele mesmo agendava, gostava de dispensar algum tempo e dinheiro (sendo certo que dispunha de ambos em abundância) aos jogos de sorte e azar dos casinos de Moscovo. Cliente habitual dos estabelecimentos, onde se comportava impecavelmente, cavalheiresco nos modos e nos negócios, costumava frequentar diariamente as maiores casas de apostas da capital, durante os 2 ou 3 meses que se seguiam a um grande assalto.

Não sendo excepção o roubo do diamante de Dinara Betpodlyi, a descoberta do paradeiro nocturno do singular Dmitri Sozsmelyi não ofereceu quaisquer dificuldades ao metódico Yuri Tabhitryi, que facilmente se inteirou de todas as pisadas do seu alvo. Pragmático e realista, sabia que a única maneira de reunir provas concludentes contra Dmitri Sozsmelyi seria levar o astuto ladrão a confessar o crime. Mas tal implicaria uma prodigiosa aproximação dele mesmo, Yuri Tabhitryi, ao criminoso, Dmitri Sozsmelyi, sendo forçosa a criação de uma amizade profunda entre ambos, geradora da confiança necessária à confissão.

A versatilidade de Yuri Tabhitryi nunca fora um problema. Assim, facilmente o detective montou um disfarce, incluindo um nome e toda uma identidade falsa, que anularia quaisquer possibilidades de vir a ser reconhecido. Seguidamente, começou a frequentar assiduamente os casinos moscovitas, expansivamente, numa abertura da sua falsa personalidade ao mundo, que rapidamente se tornou reconhecida por todos. Em breve, o detective tinha alcançado um tal estatuto de popularidade nas casas de jogos que todos, incluindo Dmitri Sozsmelyi, o conheciam pela sua jovialidade contagiante. Posteriormente, a presença de Yuri Tabhitryi na mesa do criminoso principiou a tornar-se um hábito, até ao dia em que se começaram a sentar lado a lado, tanto durante o jogo como ao balcão, dialogando animadamente sobre as peripécias da vida.

As duas personagens, embora com perspectivas da vida e do mundo seguramente diferentes, estabeleciam diálogos interessantes, num contexto aparentemente saudável e descontraído. Não obstante o profissionalismo de Yuri Tabhitryi tornar a tarefa muito simples, igual a tantas outras no passado, o detective sente uma harmonia verdadeira na forma como as suas conversas evoluem, chegando mesmo a questionar-se se os dois não poderiam ter sido amigos fora daquele contexto. Independentemente disso, a amizade incipiente que Dmitri Sozsmelyi parece evidenciar em relação a Yuri Tabhitryi levam o investigador a passar à fase seguinte da sua investigação, inquirindo o “amigo” acerca de pormenores autobiográficos, expondo, por sua vez, uma panóplia de histórias sobre si mesmo.

Naturalmente que não o surpreendeu o facto de Dmitri Sozsmelyi omitir o seu vasto historial de patifarias. Porém, no decorrer das inúmeras conversas que os dois haviam levado a cabo, muito se espantara perante a naturalidade com que o seu interlocutor se expressava acerca de assuntos pessoais, transbordando segurança e serenidade espiritual quando questionado acerca das mais íntimas questões que lhe eram colocadas, independentemente da veracidade das respostas que dava. Tal atitude surpreendeu Yuri Tabhitryi, que esperava entrever no criminoso certos sinais de apreensão e desconforto, motivados pela forma inesperada como o inquiria acerca da sua vida pessoal. Decidiu, portanto, passar a uma estratégia mais ofensiva, que se lhe afigurava infalível.

Acreditando que eventuais referências a Dinara Betpodlyi pudessem despertar, por instantes, uma reacção espontânea por parte de Dmitri Sozsmelyi, o detective começou a conduzir as conversas segundo assuntos que tornavam possível uma referência contextualizada à cantora russa. Assim, a música e os fenómenos da cultura de massas foram integrando gradualmente o leque de assuntos abordados, numa evolução dos acontecimentos que privilegiava as intenções de Yuri Tabhitryi.

Assim, numa bela noite, após meia hora de discussão musical, o ilustre investigador policial recorreu discretamente ao vulto de Dinara Betpodlyi a fim de exemplificar uma perspectiva sua em relação à música pop do leste europeu. De olhos postos no ladrão de jóias desde a primeira palavra da frase, absorvendo cada traço do rosto com toda a sofreguidão que o seu poder contemplativo de detectiva lhe conferia, Yuri Tabhitryi ansiava por uma manifestação exterior de nervosismo por parte de Dmitri Sozsmelyi. Todavia, o formidável fora-da-lei permaneceu impassível, no esplendor da sua tranquilidade de alma, sem que o mais ténue indício de inquietação se desenhasse nas feições mentirosas.

Estupefacto, Yuri Tabhitryi não cria naquilo que era dado a conhecer aos seus sentidos. Não era verosímil que uma referência a Dinara Betpodlyi, o alvo da acção criminosa de tão amplo destaque no currículo do interlocutor, não suscitasse a mais leve reacção física da sua parte! Nem a contracção de um músculo facial, nem um franzir de sobrolho, nem mesmo uma dilatação das pupilas!

Desiludido, mas nunca desanimado, Yuri Tabhitryi tornou a repetir a tentativa no dia seguinte, contextualizando engenhosamente a alusão à cantora de culto, para depois proferir o nome da artista, a propósito de uma discussão sobre o historial de espectáculos de massas na Europa Oriental. A mesma atenção no modo como fitou Dmitri Sozsmelyi, a mesma neutralidade impossível por parte do extraordinário indivíduo! Frustrado acabaria por abandonar a estratégia durante uns tempos, dedicando-se à reflexão acerca de um modo mais eficaz de resolver o problema. A verdade, porém, é que, se não seria fácil extrair a verdade ao fabuloso ladrão, a descoberta da verdade por outro meio seria a mais perfeita utopia. Assim, suspirando fundo e mentalizando-se para as adversidades que teria de enfrentar no improvisado processo de extorção, deitou resolutamente as mãos à obra, determinado a arrancar a verdade a Dmitri Sozsmelyi, custasse o que custasse.

Nas semanas seguintes, Yuri Tabhitryi desenvolveu um trabalho incansável em busca da verdade oculta, que apesar de tão distante e inacessível estava tão perto! E assim, num ímpeto heróico, contendo a ansiedade interior que o minava e impelia a acusar directamente o criminoso, ia diversificando ao máximo os temas de conversa, recorrendo a figuras e situações exemplificativas com abundância, a fim de transformar os diálogos entre ambos em tertúlias sobre a actualidade, substituindo os acontecimentos de cariz pessoal que outrora haviam dominado as conversas por assuntos de tom social e cultural. No decorrer desses debates, nos quais Dmitri Sozsmelyi se envolvia com vívido interesse, Yuri Tabhitryi demonstrou arte na forma inteligente e paciente como soube inscrever pequenas referências a Dinara Betpodlyi, totalmente enquadradas no contexto da conversa, em busca da almejada reacção por parte do ladrão.

Porém, como os leitores certamente poderão prever, a insistência épica de Yuri Tabhitryi de nada lhe valeria, já que a resposta de Dmitri Sozsmelyi era invariavelmente a mesma: indiferença, uma indiferença aterradora, verdadeiramente desesperante, que levava Yuri Tabhitryi a rogar pragas em pensamento contra o seu principal suspeito. Os seus frequentes pressentimentos, indicativos de que algo poderia mudar a cada instante, enganavam-se constantemente, parecendo irreversivelmente condenados ao fracasso.

De facto, a naturalidade de Dmitri Sozsmelyi quando encarava referências a Dinara Betpodlyi era tão impressionante que o detective russo chegava mesmo a questionar se aquele seria o verdadeiro responsável pelo roubo do diamante! Racionalmente, sabia que essa hipótese não era concebível, pois as suas faculdades dedutivas diziam-lhe, com 100% de certezas, que aquele era o culpado. Porém, perante a descontracção e tranquilidade de Dmitri Sozsmelyi ao ouvir sucessivamente o nome da mulher que tão requintadamente assaltara, o investigador criminal não sabia o que havia de pensar. Além disso, não eram raras as ocasiões em que o próprio ladrão se pronunciava acerca da cantora, manifestando posições coerentes acerca do fenómeno por ela representado, com a mesma impassividade e frieza emotiva com que discutia outros assuntos.

Assim se passavam os dias, as semanas, e até os meses! Sem provas que justificassem as suas inclinações, Yuri Tabhitryi atravessava uma situação inédita na sua carreira, não pela insolvência aparente do caso, mas pelo risco, nunca antes corrido, de perder o seu honrado estatuto de detective reconhecido internacionalmente. A polícia russa exercia uma pressão cada vez mais intensa sobre o detective, para quem a ideia de um desmoronamento da imagem profissional constituía o maior pesadelo alguma vez imaginado. Os louros da SAGA, as referências honorárias nos relatórios anuais, o reconhecimento do bem prestado à humanidade… tudo isso poderia estar seriamente comprometido caso a situação não conhecesse uma evolução positiva. Parecia que um cenário muito negro se preparava para se abater sobre o ilustre investigador. E era verdade.

Foi numa sórdida manhã de neve e nevoeiro que as más notícias chegaram. A capa de um jornal diário de Moscovo anunciava entusiasticamente o roubo do diamante mais valioso do mundo à cantora Dinara Betpodlyi, que não mais voltara a actuar publicamente desde então e se recusava a prestar declarações. Intrigado, receando o pior, Yuri Tabhitryi comprou o jornal e foi folheando hesitantemente o papel reciclado das páginas secas. Uma rápida leitura na diagonal inteirou-o da situação, que justificava os seus medos e tornava real o seu pesadelo: a imprensa cor-de-rosa acabara por descobrir o sucedido, quebrando as barreiras que a política russa lhe tentava opor, e rapidamente obtivera a informação de que o detective nomeado para a resolução do caso, Yuri Tabhitryi, não apresentara quaisquer resultados concretos, provenientes da investigação.

Suspirando, o pobre detective regressou a casa, onde esperou pacientemente pela chegada do aviso de dispensa por parte dos serviços secretos russos. O despedimento era inevitável, pelo que acabaria por chegar ao final da tarde. Pouco tempo depois, os lamentos da direcção da SAGA pelo sucedido e a prescisão dos seus serviços no futuro consumavam a derrota laboral que este caso insólito lhe havia proporcionado.

A partir desse momento, o detective Yuri Tabhitryi, ilustre glória da investigação criminal da Rússia, estava morto. Restava apenas o homem cujo ofício anterior lhe concedera a quantia suficiente para terminar a sua existência de um modo tranquilo e recatado, de preferência longe da azáfama citadina de Moscovo, palco de tantos feitos no passado, mas de uma tão grande mágoa no presente. E assim, como num acto de exílio profissional, o ex-detective decidiu partir para uma povoação rural situada a 67 km de Omsk, de onde tinha raízes.

Contudo, antes de abandonar a cidade, não podia deixar de comunicar a sua partida a Dmitri Sozsmelyi, a enigmática personagem cuja excentricidade lhe havia custado o emprego e a reputação, tantas vezes seu interlocutor, na companhia do qual passara tantos serões, tantas horas da interminável noite moscovita. Tentou despedir-se pessoalmente; porém, não teve a frontalidade suficiente para o fazer, preferindo recorrer a uma carta. Pensou também em expor toda a verdade da situação a Dmitri Sozsmelyi, para que ao menos se extinguissem os segredos que cavavam um fosso entre eles; contudo, acho que seria cobarde fazê-lo por escrito, em vez de assumir a derrota frente a frente.

Assim, optou por um texto mais convencional, no qual deva a conhecer a sua partida para o campo (sem especificar o local exacto) por motivos pessoais, agradecendo os longos momentos de convívio passados em conjunto e desculpando-se pela pressa com que partia alegando urgência na sua deslocação. Redigido o documento e entregue o envelope ao moço das entregas, Yuri Tabhitryi agarrou na sua bagagem e abandonou a casa que habitara durante longos anos de investigação criminal. O comboio esperava-o, para o levar do sítio onde jamais voltaria.

Quanto a Dmitri Sozsmelyi, ao receber a carta de Yuri Tabhitryi, limitou-se a sorrir condescendentemente, com a brandura de quem desculpa as falhas de outrem. Conhecera desde o início a verdadeira identidade do detective e sempre estivera consciente das suas verdadeiras intenções. Sorrindo interiormente sempre que Yuri Tabhitryi referia o nome de Dinara Betpodlyi, estava seguro do enorme poder o seu autocontrolo sobrehumano lhe conferia, sabendo bem guardado o segredo do roubo do diamante da cantora. E assim, gozando os prazeres de mais uma conquista, Dmitri Sozsmelyi deleitou-se nos prazeres da impunidade. A verdade jamais seria revelada!