Férias de Carnaval – Day 1

Após uma longa ausência de uma semana, cá estou eu de regresso à redacção do meu blogue. Nos últimos 3 dias não escrevi nada devido a alguma cansaço, falta de tempo e, sobretudo, uma vaga preguiça que se apoderou do meu ser. Anteriormente, ausentara-me do distrito de Lisboa para desfrutar de umas pequenas mas frutuosas férias de Carnaval em família, na tranquilidade de uma pacata urbanização de carácter rural no Algarve (peço desculpa pela sonoridade paradoxal desta antítese), em companhia do meu precioso e tantas vezes desvalorizado agregado familiar: a minha mãe e a minha irmã.

É precisamente sobre o primeiro dia deste enriquecedor período de repouso institucional que este post irá incidir. Farei uma abordagem típica de um diário. Resta aguardar pelo resultado final.

Despertar

Sábado. 13 de Fevereiro de 2010. 10:30 (mais coisa menos coisa). Após umas primeiras horas de madrugada muito produtivas em termos de posts, aconchegara o meu corpo entediado na frieza invernal dos lençóis (apesar das temperaturas amenas possibilitadas pelo aquecedor) já numa fase adiantada da noite, pelo que o meu despertar a essa hora foi muito difícil e penoso para mim. (In)felizmente, os gritos estridentes da minha adorada irmã foram muito eficazes e arrancaram a minha alma sonolenta ao seu descanso pesado, se bem que de uma forma pouco agradável e muito tumultuosa.

No seguimento de um simples mas delicioso pequeno-almoço cerealífero e de um saudável e psicologicamente estimulante banho matinal, aprontei a mochila com os objectos de lazer que gostaria de levar para o destino e acompanhei os meus entes queridos num exílio de 4 dias e 4 noites.

A viagem

Merendámos numa estação de serviço algures na margem sul do Tejo e prosseguimos no nosso caminho. A viagem foi curta e banal, comum a tantas outras, dada a fluidez dos automóveis modernos nas quase rectilíneas autoestradas portuguesas, no caso a A2 e a A22, que seguem caminho com uma facilidade incrível por esse país fora, recorrendo a todas as estratégias permitidas pela engenharia. Algumas estão em relativa harmonia com o ambiente, sobrevoando rios e ribeiras, outras traem e destroem a mãe natureza, chacinando árvores, amputando outeiros e trespassando montanhas através de túneis obscuros.

Por fim, atingirmos o destino final da jornada: o Hotel Renaissance Spa & Golf Resort, na urbanização Vila Sol, localizada nos arredores de Vilamoura. Ainda não eram 4 horas da tarde quando nos dirigíamos à recepção do estabelecimento para fazer o check-in. Passados alguns instantes, éramos levados pelo buggy até à nossa habitação provisória: um delicioso quarto numa das ruas da parte campestre, mergulhado na paz serena dos jardins da pequena povoação hoteleira.

O Paraíso: paisagem resplandecente da parte rural do Hotel Renaissance

Em busca da piscina: alguém tem uma bússola?

A minha mãe, que manifesta um prazer especial pela organização da anatomia do quarto de hotel, estando disposta a sacrificar as primeiras horas da sua estadia pelo maior aproveitamento possível das férias pela nossa parte, permitiu e incentivou a nossa primeira visita à piscina interior do hotel. Felizes nesta nova morada, tão aprazível aos nossos espíritos jovens e propícia a um Carnaval soberbo, acolhemos a proposta de forma mais um menos efusiva e de bom grado nos equipámos para o efeito.

Contudo, a nossa singular falta de atenção, durante a viagem do buggy, relativamente à configuração da aldeia, impediu a descoberta o edifício da piscina interior pela nossa parte. Deste modo, digamos que demos voltas e mais voltas no espaço do hotel, respirando uma poesia inspiradora que pairava no ar, enquanto vagueávamos por entre os blocos de alojamento, as suaves piscinas e lagos exteriores, os lindos canteiros verdejantes, onde desabrochavam as mais variadas preciosidades vegetais.

A dada altura, assomámos diante da varanda do quarto 1011 (que por acaso era o nosso) e a minha mãe surpreendeu-nos no nosso passeio rural interminável. Incapaz  de compreender a nossa falta de orientação, mostrou-nos o verdadeiro caminho para a piscina, que afinal até era bem simples, e pôs fim à nossa caça aos gambozinos. Eu e a minha irmã até já estávamos a tecer comparações com os espectaculares episódios da Twilight Zone.

Na piscina: os  ingleses

Uma vez na piscina, que apesar dos escassos 10 m de comprimento se nos revelou muito agradável, desfrutámos desse prazer enorme que é banhar a totalidade do nosso organismo humano no líquido da vida (embora impregnado de quantidades assustadoras de sais de cloro e outros compostos). O espaço estava repleto de clientes do hotel, mas a piscina em si estava vazia, pelo que pudemos nadar um bocado e brincar debaixo de água, como tanto gostamos de fazer.

O jacuzzi, que, de resto, não nos suscitava grande curiosidade, estava repleto de adolescentes ingleses (dois rapazes e duas raparigas), calculo que com uma idade semelhante à minha, que dominavam a produção sonora do local, com os seus gritos estridentes atroando pelos vapores quentes da piscina, num sotaque que identificava perfeitamente a sua nacionalidade.

Eu e a minha irmã, divertidos, começámos a falar na língua de Shakespeare, reproduzindo um sotaque muito britânico, a fim de satirizar as atitudes dos nossos simpáticos colegas de hotel. Para além disso, no momento em que deixámos a piscina, comecei a escarnecer de uma forma muito pouco ortodoxa: tecendo insultos discretos aos amigos ingleses na eloquente (mas não neste caso) língua de Camões, pouco do entendimento daqueles jovens estrangeiros.

Foi uma atitude idiota, mas, ao mesmo tempo, muito engraçada, tendo motivado umas estridentes gargalhadas da nossa parte. E nunca pusemos em causa o respeito pelas pessoas de uma nacionalidade diferente, visto que tudo isto não passou de uma brincadeira inocente (inclusivamente temos uma amiga inglesa com quem nos reunimos todos os anos em Agosto).

De regresso ao quarto, devorámos um chocolate que tinha sido comprado na viagem e tomámos um banho quentinho para nos prepararmos para o jantar. Enquanto esperava pela minha irmã, tive a oportunidade de acompanhar uma parte das cerimónias de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Vancouver, no Canadá, em diferido, e desfrutar da beleza de um espectáculo esplendidamente concebido.

Jantar na Marina de Vilamoura: robalos e uma carraça

Após o seguimento das instruções da funcionária da recepção, auxiliados por um útil mapa da região, lográmos alcançar a marina de Vilamoura, que, naturalmente, constitui um gigantesco foco de restauração, quer pelos restaurantes de comida estrangeira (sobretudo britânicos, mas também italianos e orientais), quer pelos restaurantes onde se encontram as melhores iguarias que caracterizam a gastronomia da região. Desejosos de um bom jantar, que de alguma maneira compensasse o almoço menos nutritivo e o lanche praticamente inexistente, estávamos inclinados para a procura de um restaurante de carácter piscívoro.

Vista panorâmica da Marina de Vilamoura

Enquanto dávamos os primeiros passos na exploração do local, começando pelo exame ponderado da lista de um restaurante com ar acolhedor, surge um vulto sobre as nossas cabeças: era a empregada do restaurante, baixinha e gordinha, que tentava angariar clientes a todo o custo. Não entrou com o pé direito: gabou descomunalmente os bifinhos para os meninos. Contudo, a minha mãe imediatamente contrapôs que o peixe era o nosso ideal de refeição, ao que ela inteligente e habilmente respondeu que havia uma mista de peixe muito boa, com robalo, sargo, salmão e outros peixinhos, que era para duas pessoas, mas dava para os três. Olhámos para o preço, que parecia equilibrado, e, após a combinação da substituição do salmão por outro robalo, o acordo ficou selado e entrámos no restaurante.

A refeição foi fabulosa: desde o couvert panificado, que a fome tornou magistral, à referida mista de peixe, que de facto estava divinal (sobretudo no que toca aos robalos), a uma suculenta sopa do mar, com excelente peixe e deliciosas ameijoas, tudo foi distintamente apreciado pelas três bocas da família, que saborearam com rios de prazer cada pedaço de alimento. Só foi pena o carácter irritante da empregada, excessivamente preocupada com o nosso bem-estar, como se disso dependesse a sua vida. As perguntas constantes no sentido de averiguar se estava tudo bem e tínhamos gostado carregaram aquele jantar gastronomicamente tão agradável de um certo desconforto, como se pairasse sobre nós uma força PIDEsca que vigiasse as nossas acções.

“Venham sempre cá quando eu estiver. Quando eu não estiver não venham cá.” Foram estas as suas maçadoras palavras já perto do final do jantar. Obtiveram exactamente o efeito contrário, já que aquele prestigiado restaurante não voltou a lucrar com a nossa presença.

De regresso ao hotel, joguei PES 6 durante algum tempo (o suficiente para ganhar uma Rebok Cup) e depois apaguei a luz, colocando um ponto final a este primeiro dia de férias e dando início ao primeiro período de sono naquela nova e confortável cama.

O resto das férias

Enfim, o primeiro dia é sempre o mais espectacular na medida em que está associado ao impacto inicial do local e à primeira sensação de liberdade. Neste caso, a ideia de que deixáramos para trás um mundo escolar, que ficaria suspenso durante alguns dias, representou um factor de valorização da experiência, bem como a surpresa positiva causada pela beleza harmoniosa do espaço.

Por esta razão, considero mais importante a descrição detalhada do primeiro dia de férias do que dos que se seguiram. Foi com esse espírito que escrevi este longo post, que se debruça apenas sobre o sábado gordo. Não sei como apresentar o resto das minha férias de Carnaval, mas sei 2 coisas: a) não posso dar seguimento a este longo diário, pois, se o fizer, despenderei tempo precioso num projecto de fraca utilidade; b) tenho de fazer referência a outros aspectos das férias de Carnaval, que marcaram de forma tão significativa estes dias tranquilamente sublimes!